Stephan e Kiki: separados pela injustiça.
Tish (Kiki Lane) e Fonny (Stephan James) se conhecem desde pequenos e pelo carinho que sempre sentiram um pelo outro era previsível que se tornariam namorados. O casamento era questão de tempo e muitos se arriscariam em dizer que viveriam felizes para sempre. Ele tinha 21 anos e ela 19 quando começaram a procurar uma casa para chamarem de lar. Quando o romance dos dois segue para o inevitável matrimônio surge um golpe do destino que coloca Fonny atrás das grades. Acusado de estupro, todos que conhecem o rapaz consideram que houve um equívoco quando a vítima o reconheceu na delegacia. Resta à Tish e à família tentar provar a inocência do moço, especialmente quando descobrem que Tish descobre que está gravida. Baseado na obra de James Baldwin (celebrado no documentário Eu Não sou Seu Negro/2016), o novo filme de Barry Jenkins (Moonlight/2016) poderia cair fácil no melodrama ou no mais manjado filme do condenado injustamente, mas Jenkins prefere seguir um caminho oposto. Ao invés de desespero o bebê surge como um sinal de esperança e no lugar da brutalidade, o filme nos oferece poesia. É visível como o diretor quis utilizar novos elementos ao seu estilo oscarizado pelo filme anterior, tanto que diante de um material denso, ele opta pela leveza constante da narrativa, criando uma cadência bastante particular. O diretor confirma sua habilidade para humanizar personagens e deixa-los tridimensionais, reafirma o gosto por cores fortes na composição das cenas em seus jogos de luzes e sombras, comprova o talento para costurar as cenas da história que está contando, além de comprovar a capacidade de conduzir atores ao longo de idas e vindas, no entanto, senti que o medo de cair no melodrama drenou parte da emoção do filme. Talvez seja por isso que as premiações caíram de amores por Regina King no papel da mãe de Tish. A atriz veterana (que já levou o Globo de Ouro, o Critic's Choice e o Independent Spirit de atriz coadjuvante é a favorita ao Oscar de hoje) sabe exatamente a hora que deve deixar a introspecção de lado e rasgar o coração diante da câmera. Regina está arrasadora como a mãe que precisa ajudar o genro a se livrar da acusação, mesmo aparecendo em poucas cenas. Outro destaque é a novata Kiki Lane, que tem os olhos mais luminosos dos últimos anos e torna-se responsável pela narrativa do filme que é embalada por uma deliciosa trilha jazzística. Premiado como o melhor filme no Independent Spirit Awards deste ano (e também ganhador do prêmio de melhor diretor), Se a Rua Beale Falasse tem uma história pesada tratada de forma bastante sutil, o que pode ser seu maior mérito ou seu maior defeito dependendo do espectador.
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk/EUA - 2018) de Barry Jenkins com Kiki Lane, Stephan James, Regina King, Teyonah Parris, Diego Luna, Pedro Pascal e Dave Franco. ☻☻☻
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