terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Na Tela: O Portal da Eternidade

Dafoe: desaparecendo em Van Gogh. 

Não há dúvidas de que Julian Schnabel é um homem das artes. Após ter algum reconhecimento como pintor, o americano do Brooklyn se aventurou pelo cinema com a cinebiografia Basquiat (1996), depois contou a história do escritor Reinaldo Arenas na Cuba de Fidel Castro em Antes do Anoitecer (2000). Sete anos depois, Schnabel foi indicado ao Oscar de melhor diretor pelo magnífico O Escafandro e A Borboleta (2007) sobre a vida do editor da Vogue francesa, Jean-Dominique Bauby, após um AVC que deixou seu corpo quase todo paralisado. No mesmo ano, o cineasta lançou o documentário Berlin sobre a performance de Lou Reed sobre seu histórico álbum homônimo lançado em 1976. Ele mudou o foco em Miral (2010) - e deixou muitos fãs desapontados. Schnabel retorna às câmeras oito anos depois com O Portal da Eternidade, tendo como personagem principal o pintor Vincent Van Gogh (1853-1890). Embora o pintor holandês já tenha rendido outros filmes (o mais recente foi a animação Com Amor,Van Gogh/2017), o cineasta demonstra ter um olhar bastante particular sobre o biografado. Por muito tempo, Van Gogh foi considerado louco pelo histórico de ficar internação em sanatórios, ter cortado a própria orelha e o alardeado suicídio. O roteiro escrito por Schnabel, Louise Kugelberg e o bamba Jean-Claude Carrière procura lançar uma luz diferente sobre a vida do artista, explorando de forma mais intimista a sua história. Esta opção é ainda mais valorizada pela atuação comovente de Willem Dafoe na pele do protagonista, que deixa claro os motivos pelos quais ele foi considerado louco, mas  que também consegue deixar clara a sensibilidade do pintor.  Eu demorei um pouco para entrar no clima do filme. Ele demora um pouco para engrenar, mas se você deixar apenas os olhos acompanharem as imagens que fluem, você irá perceber que a narrativa opta por um estilo mais sensorial, que nos faz sentir como seu personagem principal. Outros recursos interessantes vem de investir em cores e imagens que remetem às obras de Van Gogh, as falas de uma cena anterior que se repete na cena seguinte,  a imagem que embaça quando vemos o mundo pelos olhos do protagonista... O filme sugere muita perseguição, incompreensão e sofrimento vividos por Vincent durante seus últimos anos de vida e termina com uma versão sobre a morte do artista que vem recebido bastante eco nos últimos anos. Exibido no Festival de Veneza no ano passado, o filme recebeu o merecido prêmio de melhor ator para Willem Dafoe - que agora concorre ao Oscar na mesma categoria. O que Dafoe faz no filme é realmente impressionante, não bastasse nos convencer da alma incompreendida de um grande artista, ele comove com seu olhar desesperançoso num mundo que ainda não estava preparado para entender a forma visceral como ele o enxergava, lhe restando (em alguns momentos) apenas a fúria. 

O Portal da Eternidade (At Eternity's Gate / Suíça-Reino Unido - França - Irlanda / 2018) de Julian Schnabel com Willem Dafoe, Rupert Friend, Oscar Isaac, Mads Mikkelsen, Mathieu Almaric e Emanuelle Seigner. ☻☻☻

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