Pipper e suas amigas: sentirei saudades.
Acho interessante como as produções atuais com personagens femininas se sentem na obrigação de falar sobre empoderamento, representatividade, diversidade e encher a trama com frases de efeito feministas. O efeito quase sempre é o de um discurso superficial e pouco criativo. Sorte que Orange is The New Black é de outro tempo. Lançada em 2012, a série nunca precisou se adequar a este tipo de discurso, afinal já estava em sua essência desde o início. A cada temporada termos que ganharam o peso de palavras de ordem, surgiam na trama com uma naturalidade e leveza que a maioria das produções ainda terão que treinar muito para alcançar. A série entrou para o seleto grupo de produções mais premiadas da Netflix e rompeu tantos paradigmas que pode se dizer que chega ao fim marcando época. Pra começar a criadora Jenji Kohan teve a sabedoria de notar o interessantíssimo grupo de personagens que tinha em mãos, sem hesitar de deixar muitas vezes a sua protagonista em segundo plano. Se na primeira temporada Piper Chapman (Taylor Schilling) era o destaque, aos poucos, ela dividiu o protagonismo com a infinidade de mulheres que cruzaram seu caminho enquanto cumpria pena por tráfico de drogas. Com possibilidades infinitas, não foram poucas as personagens magníficas que apareceram durante a série e se desenvolveram de forma contundente ao longo das temporadas. Elas nos fizeram rir, chorar, sentir raiva, roer as unhas e deixarão saudade. Esta sétima e última temporada é feita como uma homenagem para estas personagens, resgata algumas que ficaram pelo meio do caminho, aponta perdas e esperanças, mas não perde o tom de alfinetada. Não por acaso, dedica a demonstrar como é complicado para algumas personagens se ajustarem à vida fora da prisão, com a solidão, o isolamento e o preconceito sempre por perto. A temporada também dedica bastante tempo ao tratamento aos imigrantes ilegais na terra do Tio Sam, aos laços de solidariedade que se formam e os horrores de viver numa prisão. Como esquecer de Red (Kate Mulgrew), Taystee (Danielle Brooks), Lorna (Yael Stone), Crazy Eyes (Uzo Aduba), Nicky (Natasha Lyonne), Gloria (Selenis Leyva) e tantas outras com seus tropeços e acertos? Sentirei muita falta destas mulheres na Netflix com seu humor ácido, suas doses de melancolia, seus amores e desejos para driblar a vida dentro da prisão. Orange is The New Black já parece que nasceu clássico e ditando referências - e um programa desses não aparece todo dia. Achei sensacional que na última temporada as personagens não estão mais separadas em grupos de latinas, negras, viciadas, são todas mulheres juntas e misturadas com suas histórias e particularidades, fortalecidas por um roteiro que sempre as buscou em suas complexidades. Orange is the New Black chega ao fim, mas seu discurso permanece.
Orange is the New Black - Temporada 7 / Final (EUA-2019) de Jenji Kohan com Taylor Schilling, Uzo Aduba, Selenis Leyva, Danielle Brooks, Yael Stone, Taryn Manning, Yael Stone, Natasha Lyonne, Nick Sandow, Jackie Cruz, Jessica Pimentel e Laura Gómez. ☻☻☻☻☻
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