Ísis e Fabrício: casal Simonal.
Pode se dizer que Wilson Simonal foi um dos grandes nomes da música brasileira, até que, por conta de alguns tropeços num período conturbado em nosso país, ele foi boicotado pelo público e pela mídia. Esta parte mais sombria da história do cantor ficou mais conhecida com o documentário Wilson Simonal - Ninguém Sabe o Duro que eu Dei (2007) e doze anos depois, a mesma história chega ao cinema em versão dramatizada com atuação inspirada de Fabrício Boliveira na pele do artista. Ainda que os dois sejam bastante diferentes fisicamente, Fabrício tem o bom senso de fazer mais do que imitar o cantor, ele incorpora a alma de Wilson. Seu charme malandro, sua ginga, os trejeitos e uma certa inquietação diante de um mundo que não estava preparado para ter uma estrela de seu quilate com a pele negra - o que o filme não deixa de registrar, ainda de forma leve, que era bastante incômodo. Dirigido por Leonardo Domingues (montador de documentários como A Pessoa é Para o que Nasce/2004) o filme tem um tratamento narrativo bastante envolvente e um grande cuidado com o ritmo (algo que se tornou incomum com as pretensões intelectuais de diretores que consideram que um filme para ser sério tem que ser arrastado e com roteiro preguiçoso). Não satisfeito com o corte a costura de sua obra, Leo ainda brinda a plateia com dois planos sequência que devem estar entre os melhores do cinema brasileiro. O cineasta também demonstra bom trabalho na condução dos seus atores, se Fabrício merece destaque, ele ainda é seguido de perto por Ísis Valverde que nunca me convenceu tanto na telona ou na telinha, mas aqui funciona muito bem! A atriz é responsável por dar vida à Tereza Puglesi, esposa do cantor que atravessa com ele a boa e má fase da carreira. O roteiro acompanha o início da carreira de Simonal, sua participação em grupos até que consegue partir para carreira solo com grande sucesso. O filme sabe aproveitar muito bem os hits do cantor, que embalam o filme de forma bastante orgânica e ajuda a entender o grande apelo que ele tinha perante o público. Boliveira capta o magnetismo do cantor e ajuda a torcer por ele mesmo quando ele mete os pés pelas mãos, seja na bebida, nos conflitos do casamento ou até quando cai na besteira de utilizar contatos perigosos para resolver um problema com seu contador. Além de contar a história de um artista, o filme não perde de vista o pano de fundo político de nosso país durante a carreira dele. Tempos sombrios que produziram uma história que colocou tudo a perder. O filme trabalha bem esta transição do festivo para o sombrio, torna-se denso em sua reta final e parte o coração quando o cantor se apresenta diante de uma plateia vazia. Bem realizado e com um roteiro eficiente, Simonal é um dos destaques do cinema nacional em 2019.
Simonal (Brasil/2019) de Leonardo Domingues com Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Leandro Hassum, Caco Ciocler, Silvio Guindade e Mariana Lima. ☻☻☻☻
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