Vincent e Pierre: clima de ressaca.
Há primeira vista, Conquistar, Amar e Viver Intensamente parece um daqueles títulos estapafúrdios que de vez em quando são criados aqui no Brasil. Na verdade o nome do último filme do cineasta Christophe Honoré é bastante fiel ao original e, ao final da sessão, quase deixa um gosto de ironia no ar. Ambientado nos anos 1990, o filme tem um tom de ressaca após o surgimento da AIDS nos anos 1980, esta atmosfera está bastante presente nas relações dos seus vários personagens masculinos. Demorei um pouco para perceber isso, até que o protagonista Jacques Tondelli (Pierre Deladonchamps) começa a deixar claro que possui uma doença incurável. Jacques é um autor relativamente famoso, tem um filho por conta de um trato com uma amiga e embora tenha charme e lábia suficiente para conquistar rapazes mais jovens, ele ainda lida com fantasmas do passado. O maior deles é o ex-namorado que está com a saúde cada vez mais comprometida e que funciona como um anúncio do que espera por Jacques num futuro próximo. Nos anos 1990, quem tentava sobreviver à doença possuía uma situação mais instável do que nos dias hoje, as pesquisas sobre o HIV e as formas de lidar com ela ainda estavam em fase de descobertas um tanto primárias. Entre os cuidados com a saúde e a carreira, Jacques se envolve com um rapaz mais jovem que parece não ter compromisso, até que conhece um estudante chamado Arthur (Vincent Lancost). Arthur divide o apartamento com um amigo e tem uma namorada, mas ainda não sabe muito bem o que fazer com ela. Ele parece mesmo interessado é no escritor. Honoré ambienta o romance dos dois com cores frias e bastante melancolia alimentada pelas incertezas sempre rondará o relacionamento dos personagens - outro que merece destaque na história é Mathieu (Denis Podalydès), o amigo, vizinho e confidente de Jacques que nutre por ele uma paixão platônica que por vezes o faz ser a voz da consciência do amigo ou então aceitar os maiores sacrifícios. Honoré cria uma narrativa sem pressa, entrelaçando os fios de seus personagens com calma e por vezes parece disperso, mas nunca desinteressante. Para aqueles que se incomodam com filmes de temática queer vão detestas, mas aqueles que preferem a forma como um bom cineasta faz cinema o filme é um deleite. Cheio de referências (principalmente sobre a nouvelle vague) é um filme que transmite a ideia de ser um recorte na vida daquelas pessoas e, por vezes, o nó na garganta é inevitável. Gostaria de ressaltar que um dos maiores motivos para o filme funcionar é o trabalho de Pierre Deladonchamps, o ator cria um personagem cheio de camadas a quem se pode se apaixonar em um instante e detestar nos minutos seguintes, o que transforma o andamento da história sempre imprevisível.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente (Plaire, aimer et courir vite / França - 2018) de Christophe Honoré com Pierre Deladonchamps, Vincent Lancost, Denis Podalydès, Adéle Wismes, Thomaz Gonzalez e Tristan Farge. ☻☻☻☻
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