Bergman: genial e genioso.
O sueco Ingmar Bergman é considerado um dos precursores do cinema moderno e basta assistir a um dos seus filmes para entender o motivo. Repletos de ângulos interessantes, conflitos psicológicos, recursos narrativos diferentes, metáforas e simbologias, seus filmes são ricos e dignos de culto até hoje. Considerado um verdadeiro patrimônio do cinema, não é surpresa que sua vida e obra rendesse um documentário. Realizado por Jane Magnusson e exibido no Festival de Cannes no ano passado, o filme tenta desvendar um pouco da genialidade e do temperamento difícil de Ingmar. Desde o início do filme demonstra sua admiração pelo cineasta, especialmente pela sua alta produtividade, não por acaso utiliza como ponto de partida a importância do ano de 1957 para sua carreira. Segundo o documentário, foi a partir daquele ano que sua carreira atingiu outro patamar com o lançamento de dois dos seus filmes mais cultuados: O Sétimo Selo e Morangos Silvestres. Naquele mesmo ano ele realizou um filme para a televisão, peças de teatro e trabalhos para rádio. O nome dele era trabalho. Por outro lado, tanta obsessão por produzir deixava sua vida particular bastante conturbada. Além de vários casamentos e envolvimento com suas atrizes favoritas (incluindo Bibi Andersson e Liv Ullman), Ingmar demonstrava grande sensibilidade, mas também uma irritabilidade que se intensificou com o tempo. Se a sua intensidade pode ser vista em sua obra, havia alguns acontecimentos familiares que o deixaram profundamente marcado para o resto da vida. O filme cita seu complicado relacionamento com o pai rígido e religioso, além do delicado laço com o irmão mais velho, no entanto, estas questões familiares serviram de inspiração para vários de seus filmes - culminando com Fanny e Alexander (1982), indicado a seis Oscars (ganhou quatro), que apresenava uma alegoria sobre sua infância e que se tornou seu último filme para o cinema. O filme também aborda como Ingmar dificultava a vida dos que tentavam compreender o homem por trás do artista, seja com entrevistas cheias de ambiguidades ou as autobiografias que mais confundiam do que esclareciam, além de apresentar como o ego se tornou gigantesco ao se tornar um unanimidade perante público e crítica. Foi neste período que ocorreu um dos episódios mais controversos de sua carreira, a discussão com o promissor Thorsten Flinck nos bastidores do teatro sueco. Assistindo ao documentário, conseguimos até entender um pouco mais sobre o artista que ao final da vida preferiu viver numa ilha isolado e tornando-se cada vez mais recluso. Realizado para comemorar cem anos do nascimento deste ícone, o filme conta com entrevistas de vários artistas que trabalharam com ele e vários admiradores, além de contar com cenas de arquivo e comentários preciosos sobre sua obra. Documentário imperdível para quem é fã e obrigatório para quem quer conhecer uma dos criadores mais interessantes da sétima arte.
Bergman - 100 anos (Bergman: Ett år - ett liv / Suécia - Noruega / 2018) de Jane Magnusson com Ingmar Bergman, Lena Endre, Elliot Gould, Barbra Streisand, Liv Ullman, Bibi Andersson, Thorsten Flinck e Lars Von Trier ☻☻☻☻
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