Oldman e Banderas: esquemas complicados e química irresistível.
Pode se dizer que A Lavanderia era um dos filmes mais aguardados da Netflix com lançamento previsto para este ano. Além da assinatura ilustre (Steve Soderbergh) e do elenco cheio de rostos conhecidos, a história é baseada em fatos reais e envolvem o estranho mundo de empresas de fachada que servem para todo tipo de presepada. Quem conduz o espectador por este (sub)mundo um tanto complicado (tentando nos convencer de que fazer trambicagem é mais simples do que parece) é a dupla Ramón Fonseca (Antonio Banderas) e Jürgen Mossack (Gary Oldman), espécie de conselheiros financeiros na fundação destas empresas fundadas em paraísos fiscais sobre um bocado de más intenções. Sempre dispostos a tecer comentários irônicos sobre o que está acontecendo na tela, os dois costuram as histórias de um grupo de personagens que aparentemente não possuem ligação entre si. Entre os vários personagens está Ellen Martin (Meryl Streep), uma mulher capaz de perceber que existe algo de errado quando ela e o esposo (James Cromwell) são vítimas de um acidente de barco e o recebimento do seguro está sempre nebuloso num emaranhados de empresas que negociam entre si e dificultam cada vez mais sua vida. Ela acaba tropeçando em Malchus Boncamper (Jeffrey Wright) que engana até a esposa diante da vida dupla que leva e uma série de outras histórias que só ilustram como é fácil enrolar as pessoas quando se conhece os meandros mais obscuros das leis fiscais. Soderbergh constrói uma narrativa esperta calcada no livro de Jack Bernstein, mas que peca ao parecer uma cópia branda dos trabalhos de Adam McKay (A Grande Aposta/2015 e Vice/2018) o que deixa uma sensação estranha perante o roteiro cheio de digressões e desvios que de vez em quando perde o fio da meada. Contando sua história por dentro do que viria a ser o escândalo do Panama Papers, o filme tem ironia de sobra e um elenco talentoso que consegue dar conta de um roteiro que poderia ser melhor lapidado, especialmente no desfecho (que deve provocar algumas risadas especialmente no Brasil) e seu ponto final que destrói de vez a ilusão de estarmos diante de um filme realista com Banderas e Oldman (é impressionante a química dos dois, uma verdadeira surpresa!) caminhando pelo estúdio em meio a refletores e câmeras, além de Meryl Streep tirando a maquiagem para discursar sobre a ilusão democrática que vivemos. A Lavanderia é um pouco de tudo e, por isso mesmo é tão interessante quanto disperso em alguns momentos.
A Lavanderia (The Laundromat/EUA-2019) de Steve Soderbergh com Meryl Streep, Gary Oldman, Antonio Banderas, James Cromwell, David Schwimmer, Jeffrey Wright, Robert Patrick, Matthias Schoenaerts e Sharon Stone. ☻☻☻
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