Carell e Gosling: a crise vista (comicamente) por dentro.
A crise econômica que explodiu em 2008 nos EUA - e afetou o mundo globalizado - já gerou vários filmes, de O Dia Antes do Fim/2011 ao documentário Trabalho Interno/2010 (que deve ser o melhor de todos), nenhum deles ousou mudar o tom para comédia como o elogiado A Grande Aposta. Lançado ao final do ano passado, o filme surpreendeu ao aparecer indicado nas principais premiações em categorias importantes (só no Oscar concorre em cinco: filme, direção, ator coadjuvante, roteiro adaptado e edição). No entanto, não pense que o filme banaliza a crise, pelo contrário, cria uma tensão crescente enquanto seus vários personagens começam a perceber que existe uma bolha de dívidas e especulações prestes a explodir. O diretor Adam McKay recrutou um elenco de peso para personificar personagens importantes nessa história baseada no livro de Michael Lewis. O elenco conta com Ryan Gosling (de cabelos escuros servindo de narrador), Steve Carell (na pele do mais incrédulo de todos), Brad Pitt (que também assina a produção), Christian Bale (na pele de um gênio com síndrome de Asperger que faz a tal aposta do título nacional) e uma série de outros artistas que você já viu o rosto várias vezes (Melissa Leo, Marisa Tomei, Rafe Spall...). Cada um tem um papel específico nessa história, mas todos servem para você perceber como a falência imobiliária americana foi construída como uma grande... piada. O filme utiliza uma edição nervosa para explicar que toda a crise foi gerada a partir da venda de dívidas imobiliárias e especulações variadas por gente que olhava para saldos devedores com o otimismo de que tudo seria pago sem maiores problemas (você deve se lembrar da febre de empréstimos realizados sem comprovantes de renda até aqui no Brasil). A coisa só cresceu quando as dívidas receberam nomes pomposos e foram vendidos como títulos no mercado financeiro e... o risco só cresceu. A Grande Aposta não gasta tempo apresentando seus personagens (temos apenas algumas informações sobre eles - motivo pelo qual Christian Bale deve ter sido indicado ao Oscar de ator coadjuvante, já que preencheu as lacunas de seu Michael Burry com várias esquisitices) e tem grande engenhosidade em girar em torno da mesma conversa por mais de duas horas. A edição ajuda muito, a estratégia de usar celebridades para explicar a parte técnica da história também (e não se culpe se prestar mais atenção em Margot Robbie na banheira do que na explicação que ela faz), sua ironia em revelar o absurdo do que foi feito também surte um efeito interessante na plateia pouco entendida no assunto. No entanto, o considerei um filme cansativo (ou seria exaustivo?), mas seria injusto não reconhecer seus méritos em abordar de forma irreverente uma temática tão complicada, sempre com o cuidado de criar a tensão certa nos momentos em que é necessária.
A Grande Aposta (The Big Short/EUA-2015) de Adam McKay com Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, Hamish Linklater e Marisa Tomei. ☻☻☻
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