Sergio Chamy: espião novato em casa de repouso.
Embora muita gente tenha ficado surpresa quando o Brasil anunciou que o documentário Babenco - Alguém tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou de Bárbara Paz para disputar uma vaga na categoria de filme internacional no Oscar, vale lembrar que outros países também adotaram esta estratégia - que verdade cria uma visibilidade para o filme concorrer também na categoria de melhor documentário, especialmente depois o macedônio Honeyland (2019) conseguiu vaga nas duas categorias. Além do Brasil, outros quatro países adotaram esta estratégia: a Venezuela (Era Uma Vez na Venezuela), a Itália ( Notturno), a Romênia (com o elogiadíssimo Collective) e o Chile com este O Agente Duplo que está disponível na GloboPlay. O filme da diretora Maite Alberdi parte de uma ideia que parece sensacionalista e logo se revela um retrato comovente da forma como a sociedade trata os idosos. Seu ponto de partida é uma mulher não identificada que suspeita que sua mãe é negligenciada numa casa de repouso para idosos e contrata um detetive que seleciona alguém capaz de se infiltrar na casa e apurar as situações que acontecem por ali. Enquanto isso, a equipe de filmagem usa uma outra justificativa para entrar na instituição: acompanhar o processo de adaptação de um recém-chegado no local. O "detetive" selecionado é o simpático Sergio Chamy, um viúvo de 83 anos que precisa aprender a usar tecnologias, ser discreto e manter um certo distanciamento emocional para manter-se objetivo em sua investigação. Cercado por diferentes histórias de vida e realidades familiares bastante diferentes, o filme se torna cada vez mais interessante com popularidade que o "espião" começa a receber das solitárias senhoras que vivem por ali. Entre festas, denúncias e desconstruções existem momentos bem-humorados e outros melancólicos que revelam o quanto O Agente Duplo é um filme interessantíssimo por romper as barreiras da linguagem documental e do ficcional. Muitos o consideram um verdadeiro híbrido perante a espontaneidade apresentada em sua narrativa bem estruturada (em diversos momentos eu imaginei que era um filme com amadores seguindo um roteiro, o que o torna ainda mais instigante). O filme possui uma construção envolvente, espirituosa e guarda para o desfecho uma constatação que o espectador constrói gradativamente durante sua duração enxuta (80 minutos). O documentário foi filmado numa casa de repouso nos arredores de Santiago e pode até não aparecer no Oscar (mas eu adoraria que concorresse na categoria de melhor documentário), mas é uma grata surpresa que merece ser descoberta. Esta é a vigésima quinta vez que o Chile indica um filme para concorrer a uma vaga na categoria de filme estrangeiro, mas conseguiu ser indicado somente em 2013 com No (2012) de Sebastián Lelio. O país concorreu novamente cinco anos depois, com Lelio levando o Oscar para casa ao repetir a proeza com Uma Mulher Fantástica (2017).
O Agente Duplo (El Agente Topo / Chile - 2020) de Maite Alberdi com Sergio Chamy e Rómulo Aitkin. ☻☻☻☻
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