Sybil e Robert: separados por uma ideia infeliz.
Lançado por aqui no Amazon Prime Video em outubro do ano passado, o filme Time é uma das grandes apostas para os prêmios de melhor documentário da temporada (já foi premiado pelo National Board of Review, o Gotham, está indicado ao Independent Spirit Awards...) O longa conta a história do casal Sybil Fox Richardson e Robert Richardson, os dois se conheceram na adolescência e se casaram em 1997, juntos abriram uma loja de roupas de hip-hop em Shrevenport na Louisiana e diante dos percalços da vida tiveram a péssima ideia de assaltarem um banco. Sybil, que dirigia o carro de fuga, fez um acordo judicial e foi liberada em três anos e meio da prisão, já Robert foi condenado a sessenta anos e fez com que a vida de Sybil nos anos seguintes se transformasse em uma luta por sua libertação. Boa parte do que relatei acima você descobre lá pelo meio da sessão, já que o trabalho do diretor Garrett Bradley revela a história aos poucos para prender a atenção do espectador, motivado especialmente pelas cenas de abertura - uma colagem de vários vídeos que Sybil realizou ao lado de seus filhos ao longo do tempo em que o marido está preso. Já mãe de dois filhos é diante da câmera que Sybil dá a notícia que foi libertada grávida de gêmeos e com a família numerosa teve que batalhar para seguir a vida. Além de trabalhar para sustentar a família, ela ainda realiza palestras motivacionais calcada em sua história, as consequências familiares daquele ato e da injustiça que considera pairar sobre o caso de seu esposo. Para além da história criminal retratada, o formato do filme consegue ser ainda mais interessante, já que como o título em inglês revela, o longa está mais interessado na passagem do tempo e suas transformações. Para isso houve um árduo trabalho de montagem que mescla passado e presente graças à contribuição das mais de cem horas com registros feitos pela própria senhora Richardson e entregues ao diretor Garrett Bradley, que depois passou a filmar cenas mais recentes da família. Assim, as crianças cresceram, Sybil (que também gosta de ser chamada de Fox Rich) amadureceu, mas a ausência do pai está sempre lá (por vezes representada por um cartaz de papelão em tamanho natural). Esta ideia de uma família sobrevivendo a um buraco que perdura por décadas é o maior foco de interesse da produção. Existem nas entrelinhas comentários sobre o peso do preconceito no momento da sentença, mas não recebe muito destaque na produção (confesso que senti falta de maiores detalhes sobre o assalto que é mencionado muito rapidamente, além de detalhes que revelassem que não houve vítimas ou maiores consequências por conta do assalto, o que fez com que a sentença de sessenta anos gerasse grande controvérsia). Entre a trilha sonora (um tanto excessiva) e os comentários em contraponto da mãe de Sybil o filme termina com uma mensagem de esperança (e de que assaltar um banco nunca é uma boa ideia). Trata-se de um filme bastante particular e íntimo e que chama atenção pela sua narrativa que sobrepõe passado e presente (costurados pela fotografia em preto e branco).
Time (EUA-2020) de Garrett Bradley com Fox Rich, Freedom Rich, Justus Rich e Robert Richardson. ☻☻☻
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