Pânico 4: mais do mesmo (o que é ironicamente arrepiante).
Lembro quando o primeiro Pânico (1996) de Wes Craven foi lançado numa estratégia arriscada nos EUA, chegando às salas na semana de Natal. O filme estreou mal das pernas e caminhou lentamente até chegar à lista dos filmes mais vistos daquele ano. Além disso, o mercado de filmes de terror -que estava de mal a pior - ganhou uma injeção de ânimo com suas piadas autoreferenciais, alguma metalinguagem e muito, muito suspense. O diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson acabaram criando um novo parâmetro para os filmes do gênero e se tornou uma febre mundial a trama dos assassinatos na fictícia cidade de Woodsboro. A cena de suspense estrelada por Drew Barrymore no início do longa já se tornou clássica por sintetizar magistralmente o atmosfera do longa centrado num assassino viciado em filmes de terror. Na perseguição à jovem Sidney (Neve Campbell, que na época estrelava a série Party of Five), o roteiro triturava referências dos filmes de terror clássicos, ironizava as regras vistas no gênero e apontava tendências que caiam no gosto popular como uma crítica aos filmes de serial killers e a celebrização deste tipo de personagem. Foi uma ideia tão bem sacada que quando o MTV Awards ainda era uma premiação esperta lhe conferiu o prêmio de melhor filme do ano. A sequência era inevitável. Pânico 2 (1997) chegou aos cinemas no ano seguinte trazendo os sobreviventes do elenco original: a própria Sidney (que agora estava na universidade), a repórter oportunista e arrogante Gale Wheaters (Courtney Cox, que nasceu para este papel) que escreveu um livro sobre os crimes do filme anterior e o policial bonzinho Dewey (David Arquette que acabou casando com Courtney enquanto ela estava no auge da série Friends). As vagas para uma pequena participação foram disputadas aos tapas pelos jovens atores de Hollywood e no fim das contas nomes em ascenção como Sarah Michelle Gellar e Jerry O'Connel, levaram a melhor. O filme era mais longo, mais violento e as piadinhas giravam em torno da sequências cinematográficas além da versão para o cinema da saga de Sidney, sob o título de Stab (Apunhalada). Estava claro que a intenção era superar o primeiro. Não foi bem assim, Williamson se levou a sério demais e enquanto Craven caprichava no suspense, o filme tentava aprofundar os traumas de Sidney e a sua relação com a história promíscua de sua mãe. Mais uma vez o assassino possui relação com o passado de sua progenitora. Mas o filme carecia de uma cena memorável - ainda que a cena inicial com Jada Pinkett cause arrepios (mesmo com os problemas de percurso, Campbell foi eleita a melhor atriz do ano pelo MTV Movie Awards). Em 2000, Pânico 3 já demonstrava sinais de cansaço, mas ainda apresentava um suspense acima da média. O terceiro episódio resgatou muito do humor que parecia ter se perdido no anterior e era baseado nas filmagens da continuação de Stab. Os próprios personagens viraram motivos de chacota, de Sidney que era vivida por Tori Spelling, Gale Weathers recebia caprichada paródia de Parker Posey. O filme contava com uma participação pequena de Sidney que passa a viver no isolamento - e mesmo assim não evita que o passado de sua mãe volte a motivar assassinos a procurá-la. Essa participação pequena da personagem se deve mais ao esforço de Campbell desligar sua imagem da personagem, mas não funcionou. Onze anos depois do último filme, com a carreira de seu elenco principal precisando de ânimo, Wes Craven tenta revitalizar a franquia trazendo Sidney novamente para Woodsboro e reencontrando Dewey, Weathers, familiares (uma prima vivida pela bonitinha Emma Roberts e uma tia interpretada pela renomada Mary McDonnel com uma juba digna de Rei Leão). Apesar das tiradas sobre internet, celulares, SMS, redes sociais e youtube (para atualizar a saga) a espinha dorsal da narrativa continua a mesma: piadas sobre filmes de terror (especialmente sobre a série calcada em Sidney, a fictícia Stab que aparece desgastada após sete episódios e rende rumores de uma refilmagem - o que é o alvo das autorerências do longa). Se o lema do filme é "nova década, novas regras", esta aparece mais como uma pegadinha para o público do que um princípio - principalmente porque qualquer indício de novos personagens tomando o lugar dos velhos mostra-se uma frustração - já que todos são alvos do massacre. Estão lá as piadinhas cinéfilas ao gênero, o suspense de arrepiar, as atuações corretas do elenco (mais uma vez vindo da TV, em sua maioria) e sangue, muito sangue. Em tempos do horrendo Jogos Mortais, Pânico 4 (ainda que sendo mais do mesmo) tem mais frescor do que as refilmagens dos clássicos de horror que aparecem por aí. Prova disso foi a arrecadação de mais que o dobro de seu custo somente nos EUA.
Pânico (Srecam / EUA-1996) de Wes Craven com Neve Campbell, Drew Barrymore, Rose McGowan. David Arquette, Courtney Cox, Skeet Ulrich, Jamie Kennedy e Matthew Lillard. ☻☻☻☻
Pânico 2 (Scream 2 - EUA/1997) de Wes Craven com Neve Campbell, David Arquette, Courtney Cox, Jerry O'Connel, Jada Pinket-Smith, Tymothy Olyphant e Sarah Michelle Gellar. ☻☻
Pânico 3 (Scream 3 - EUA/2000) de Wes Craven com Neve Campbell, Courtney Cox, Parker Posey, David Arquette, Scott Floley, Patrick Dempsey e Heather Matarazzo. ☻☻☻
Pânico 4 (SCRE4M - EUA/2011) de Wes Craven com Neve Campbell, Emma Roberts, Courtney Cox, Rory Culkin, David Arquette, Mary McDonnel, Hayden Panettiere e Anna Paquin. ☻☻☻
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