sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

PL►Y: Pieces of a Woman

 
Shia e Vanessa: juntando os cacos. 

Pieces of a Woman ganhou fama ao receber o prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza para Vanessa Kirby (que ficou conhecida como a princesa Margareth das primeiras temporadas de The Crown) e confesso que fiquei muito feliz quando a Netflix comprou os direitos do filme. O filme gira em torno de Martha (Vanessa Kirby) que está prestes a ter seu primeiro bebê. Ela opta por ter o parto em casa com a ajuda de uma parteira e a meia-hora inicial do filme é dedicado a este momento em que junto à dor e a angústia da personagem o pior acontece (e só então o filme anuncia seu título). O luto se instaura e a partir dali vemos como aquela situação trágica afeta a vida da protagonista e de quem está ao seu redor, com destaque para seu companheiro, Sean (um dedicado Shia LaBeouf). O que temos aqui é um doloroso filme de luto, mas o roteiro de Kata Wéber reserva para sua personagem ações que fogem do óbvio e a tornam uma espécie de enigma. É óbvio que Martha está sofrendo, sofre com o quarto da criança, sofre com o leite que seu corpo insiste em produzir, sofre com ao encarar a  expressão de quem a viu grávida e percebe sua tristeza não pode ser medida. Ao seu lado também está a dor de Sean, que segue por um caminho oposto e autodestrutivo enquanto envereda por uma trama paralela sobre o  processo contra a parteira responsável pela conturbada chegada de Yvette ao mundo. Esta ideia de justiça na medida de culpar alguém é motivada principalmente pela mãe da protagonista, Elizabeth (Ellen Burstyn) que tem lá seus conflitos a serem resolvidos com a filha. Martha não vê sentido em nada daquilo,  nada é capaz de lhe trazer conforto. Pieces of a Woman traz um recorte sobre a vida de sua personagem principal e amplia sua rede de possibilidades sem que para isso precise contar muitos detalhes sobre sua vida pessoa. O que vemos são realmente fragmentos sobre a vida daquela mulher após aquele doloroso episódio e divagamos um pouco sobre seu relacionamento com Sean e a família, mas é tudo pontuado numa cadência perfeita para criar um nó na garganta pelo tom impresso pelo diretor húngaro Kornél Mundruczó - que guarda sentimentos dentro de uma armadura mas que permanecem dotados da capacidade de fazer o espectador se conectar com Martha de uma forma inimaginável até que ela se reconecte com o mundo com sua dor em forma de catarse. Esta é a primeira produção em língua inglesa de Kornél Mundruczó, que chamou bastante atenção com Deus Branco (2014) e até com o menos impactante Lua de Júpiter (2017) e aqui ele prova mais uma vez que filma muito bem, mas melhorou ainda mais o amparo ao seu elenco em momentos de rasgar o coração. Shia e Ellen estão ótimos em cena, mas o espetáculo fica por conta de Vanessa que já desponta como uma das favoritas ao próximo Oscar de melhor atriz. Ainda que não viva uma personagem propriamente agradável (e nem precisa ser) seu trabalho impressiona de tão comovente. Além de me convencer de que estava tendo realmente um bebê no início do filme, ela ainda tem aquela cena perto do desfecho em que não precisa dizer nada, que apenas a sua dor preenche a tela e transborda para o espectador. Ainda assim, Pieces of a Woman termina em tom de esperança (e você jamais verá as maçãs do mesmo jeito). 

Pieces of a Woman (Canadá / Hungria / EUA - 2020) de Kornél Mundruczó com Vanessa Kirby, Shia LaBeouf, Ellen Burstyn, Molly Parker, Iliza Shlesinger, Benny Safdie e Sarah Snooke. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário