quinta-feira, 17 de novembro de 2022

CICLO VERDE E AMARELO: Marighella

Seu Jorge: escolha criticada em atuação premiada. 

Lançado no final do ano passado após diversos adiamentos, Marighella, o filme de estreia de Wagner Moura na direção já chegava aos cinemas com uma campanha de divulgação que aconteceu quase que por conta própria. Seja pela audácia de contar a história de um personagem histórico que lutou contra o regime militar (levando em conta o cenário político nacional recente), seja por ter escolhido Seu Jorge para viver o protagonista ou pelas diversas vezes em que foi apontada censura sob a não chegada dos filmes na telona. No fim das contas, quando o filme estreou havia tanto burburinho em torno dele que seria até difícil separar o que ele representava de suas qualidades cinematográficas. Entre discursos de direita e esquerda tentarei falar sobre o filme. Não resta dúvidas que diante de toda sua experiência em produções cinematográficas nacionais ou internacionais, Wagner Moura aprendeu direitinho como fazer cinema com C maiúsculo, afinal, sua qualidade técnica é invejável. Seu Jorge dá conta com grande vigor do personagem, apresentando suas convicções, sem perder de vista os traços que lhe tornou um líder carismático da Ação Libertadora Nacional, que reunia pessoas em prol da causa de "libertar o povo brasileiro da opressão". Como o filme repete várias vezes, "a mídia estava amordaçada" e o ponto de vista do grupo nunca era divulgado, deixando que fossem vistos no limiar entre a militância e o crime. Para dar um suporte dramático ao lado histórico do filme, o texto tenta contar a história de personagens que estavam em torno do protagonista, abordando seus dilemas pessoais de forma bastante concisa, sejam jovens, jornalistas ou líderes que veem na figura do policial Lucio (vivido por Bruno Gagliasso) a encarnação da opressão. Obviamente que o filme toma algumas liberdades para tornar sua trama mais envolvente, se enrola em algumas situações que parecem não ter muita serventia (como o assalto ao trem ou a entrada no banco com o filho por perto), despeja cenas de violência bastante gráfica (de fazer fechar os olhos nas cenas de tortura) e romantiza alguns personagens. Enfim, faz o filme com todos os ingredientes necessários para embalar um thriller político interessante. No entanto, alguns pontos me incomodaram, como o uso de frases feitas um tanto batidas e a dificuldade de fazer um corte final no filme, perto do final ele já me parecia interminável... e aquelas cenas finais sucessivas só aumentaram esta impressão. No entanto, nada que prejudique a estreia audaciosa de Wagner Moura na direção, ainda que ele carregue muito do estilo de José Padilha (Tropa de Elite/2007)  na direção, o moço tem tudo para fazer bonito em seus projetos atrás das câmeras. O filme concorreu a 17 categorias no Grande Prêmio Cinema Brasil e levou oito para casa, incluindo Melhor Filme, Direção e Melhor Ator (Seu Jorge). 

Marighella (Brasil-2019) de Wagner Moura com Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Humberto Carrão, Luiz Carlos Vasconcelos, Herson Capri, Bella Camero e Jorge Paz. ☻☻

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