segunda-feira, 28 de novembro de 2022

PL►Y: Não se Preocupe, Querida

 
Harry e Florence: Só problemas. 

(Confesso que estava com preguiça de escrever sobre Não se Preocupe, Querida). O novo filme dirigido por Olivia Wilde está disponível na HBOMax depois de toda turbulência que sofreu. Seja na produção ou no lançamento, o longa foi rodeado de fofocas variadas sobre os bastidores (da relação entre Harry Stiles e Wilde, da separação da diretora do então parceiro de longa data - o Jason Sudekis -, a dispensa de Shya LaBeouf do papel principal, as desavenças de Florence Pugh com Olivia, aquele papo de cuspe na exibição em Veneza, Florence se recusando a participar de campanha de divulgação, enfim, tudo de ruim.) Porém, com toda esta confusão, ainda havia expectativas altas para o filme, especialmente por conta da estreia de Wilde atrás das câmeras, o divertido Fora de Série (2019) que conquistava justamente pela despretensão. Particularmente não vejo nada demais na diretora querer dar um passo mais ambicioso em sua carreira, cobiçar prêmios e tudo mais, o problema é quando não se percebe que o roteiro não lhe dá suporte para estas ambições (uma pena, já que cenários, figurinos e fotografia são feitos no capricho e podem até aparecer nas premiações que se aproximam). O filme é ambientado nos anos 1950, em que um jovem casal vai morar numa comunidade experimental em que tudo gira em torno de uma misteriosa empresa de tecnologia em que ninguém faz muita ideia do que faz. Alice (Florence Pugh) parece viver no país das maravilhas com seu esposo, Jack (Harry Stiles) até que uma vizinha começa a ter um comportamento estranho e faz com que Alice comece a questionar o que está acontecendo - e ela que passa a ser considera a estranha da vez. A ideia de uma comunidade utópica, com donas de casa assustadoramente perfeitas já foi vista no clássico do suspense As Esposas de Stepford (1975) que já rendeu uma regravação cômica em Mulheres Perfeitas (2004) com Nicole Kidman, mas aqui a ideia traz uma revelação diferente no seu último ato. Muita gente reclamou que o filme não tem pé nem cabeça, mas ainda penso que essa era a ideia (basta notar a Alice vestindo só uma camisa do marido no meio da rua nos anos 1950). Repare os ovos vazios, a parede que aperta Alice contra o vidro, a cena do sufocamente, as cenas de sexo manjadas, os homens vestidos de vermelho, tudo é feito de forma estranha e proposital em sua artificialidade, como se quisesse revelar que tudo é um mundo de fantasia (tal e qual a nostalgia que o Tio Sam sente daquele tempo antes dos movimentos de contracultura e revolução sexual). O problema é que Não Se Preocupe, Querida atira para muitos lados e o alvo do que poderia ser mais interessante. Talvez a produção conturbada tenha afetado o rumo das gravações e levado tudo ao final insatisfatório, apressado e que larga o que o filme tinha de melhor pelo meio do caminho. Em alguns momentos tive a impressão que a presença de Harry Styles forçava uma couraça pop ao filme, que na verdade tem a alma de um dos pesadelos de Darren Aronofsky (e existem várias referências, ainda que brandas, a algumas cenas de Réquiem Para um Sonho/2000 por aqui). Aos fãs do moço, tenho a dizer que não o considero o desastre que alardearam, o rapaz tem lá seu magnetismo, só precisa se aprimorar no desenvolvimento da personalidade dos personagens (mas também é covardia querer que ele esteja à altura da sempre ótima Florence Pugh). Não se Preocupe, Querida é um filme que tem algo a dizer, mas se torna cansativo em sua irregularidade. Ao final deixa aquela imagens caleidoscópicas idílicas em preto e branco, talvez o filme seja isso mesmo, um caleidoscópio de ideias que não se desenvolvem como deveriam. 

Não se Preocupe, Querida (Don't Worry Darling/EUA-2022) de Olivia Wilde com Florence Pugh, Harry Styles, Chris Pine, Olivia Wilde, Kiki Lane, Gemma Chan, Nick Kroll e Thimothy Simons. ☻☻

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