Cauã: imperador à beira da loucura.
A cineasta Laís Bodansky já participou de tantos projetos interessantes que sempre que algum novo filme dela é lançado minha curiosidade começa a soar uma espécie de alarme. Foi assim também com A Viagem de Pedro - que desde o início me causou estranhamento a ideia de ter Cauã Reymond na pele de Dom Pedro I. Imaginar o galã na pele de um herdeiro real português deve ter sido a tarefa mais difícil no início do filme, talvez, por isso eu considere que a produção demora para engrenar. O filme conta a história real da viagem do Pedro I de volta à Portugal em 1831 para guerrear com seu irmão, D. Miguel (Isac Graça) e colocar sua filha no trono. Na viagem, Pedro deixou seu filho de cinco anos reinando no Brasil e saiu daqui sobre gritos de uma população que não o enxergavam como digno de ser um imperador brasileiro. Da mesma forma, os portugueses também tinham dificuldade em vê-lo como digno de reinar por lá, já que seus pais vieram para o Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte quando ainda era pequeno. Durante a viagem do título, o filme pretende abordar estas e outras questões de forma romantizada, já que não existem registros sobre o que se passava na cabeça de Dom Pedro I durante a longa viagem. Assim, o filme torna-se cada vez mais interessante conforme investe nos delírios, pesadelos e lembranças deste personagem histórico, sem deixar de lado todas as especulações sobre o fato de ter contraído sífilis em suas inúmeras aventuras sexuais e as crises de epilepsia ao longo da viagem. O relacionamento com suas esposas e amantes aparecem em algumas cenas, assim como vários diálogos sobre sua impotência sexual e outros detalhes de alcova (e muita nudez, inclusive). Filmado de forma claustrofóbica, o filme consegue transformar toda sua ambientação cênica em uma espécie de labirinto mental do protagonista (e Cauã Reymond quanto mais doido fica, melhor funciona). No filme se fala várias línguas (identifiquei pelo menos cinco) e confere à viagem a ideia de uma verdadeira Torre de Babel, sem perder de vista os toques anacrônicos que aparecem aqui e ali (alguns diálogos parecem ouvidos na esquina e provocou algumas risadas enquanto eu assistia, a relação dele com os escravos também não parece verossímil), mas o que mais me incomodou foi a sensação que o barco estava parado o tempo inteiro até chegar em Portugal (!). No fim das contas A Viagem de Pedro é um grande devaneio sobre uma viagem histórica importante, pena que quando as viagens criativas não acontecem o filme seja bastante cansativo.
A Viagem de Pedro (Brasil - Portugal / 2022) de Laís Bodanzky com Cauã Reymond, Luise Heyer, Francis Magee, Welket Bungué, Izabel Zuáa, Luísa Cruz, Isac Graça e João Lagarto. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário