segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

PL►Y: How to Have Sex

 
Mia e Shaun: destaques na estreia de Molly Walker. 

Lembrado em premiações do cinema independente e figurando em listas de melhores do ano de vários críticos, How to Have Sex (que está em cartaz na MUBI) é um desses filmes que impressionam por sua habilidade de falar de temas complicados sem cair no sensacionalismo. A trama é aparentemente simples: um trio de amigas resolve passar férias da Grécia e entre festas e muita bebida, planejam que Tara (Mia McKenna-Bruce) perca a virgindade. Embora as três estejam animadíssimas, Em (Envia Lewis) e Skye (Lara Peake) são mais experientes e tentam motivar a amiga a se envolver com um dos rapazes que conheceram no hotel em que estão hospedadas. No apartamento ao lado  existem dois pretendentes, o bonitinho Paddy (Samuel Bottolomey) e o despojado Texugo (Shaun Thomas). Embora as amigas torçam pelo primeiro, muito mais por conta de sua aparência, Tara está cada vez mais interessada no outro, que tem um senso de humor similar ao dela e demonstra ser bem mais atencioso. Ainda que o roteiro não diga em palavras, fica evidente para a personagem que  a primeira vez precisa ser especial, com alguém que ela considere digno de compartilhar aquele momento - embora suas melhores amigas considere tudo aquilo um tanto antiquado. Acontece que no meio de todas as festas, saídas e bebidas, acontece algo que muda a aura de Tara de forma permanente. As pessoas em volta dela parecem tão iludidos em suas convicções que não percebem como a personagem se transforma diante da câmera. Tara vivenciou uma situação de abuso, mas a forma como todos ao seu redor falam, parece que seu evidente desconforto é fora de propósito. How to Have Sex é um filme que aponta ao menos duas situações dignas de discussão: como a forma como vemos sexo pode mascarar as situações de abuso e como a vítima pode se sentir culpada diante dos fatos. Em alguns momentos Tara parece exigir de si mesma que lide com aquela situação com naturalidade, especialmente por conta do ambiente que não parece se importar com as emoções que foram envolvidas na situação. O trabalho de Mia McKenna-Bruce é perfeito ao compor a transição da personagem e encontra amparo interessante na parceria com Shaun Thomas, que funciona como excelente contraponto na postura de seu personagem em um mundo idiotizado e cego à mudança de postura de Tara ao longo do filme. Ao final da sessão, o filme deixa aquele tom melancólico do que poderia ter sido um romance de verão inesquecível, mas que toma outro rumo traumatizante.  O filme é o primeiro longa-metragem da diretora diretora Molly Manning Walker, que possui vasta experiência na condução de curtas, clipes e programas de televisão e que demonstra aqui uma direção que investe num tom quase documental, o que lhe confere um tom mais sincero sem perder a sensibilidade diante do tema sensível que pretende abordar. Premiado na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes, o longa é um ótimo cartão de apresentação para que as plateias fiquem de olho não apenas nos projetos futuros da diretora, como também da dupla Mia McKenna e Shaun Thomas.

How to Have Sex (Reino Unido – Grécia / 2023) de Molly Manning Walker com Mia McKenna Bruce, Shaun Thmas, Samuel Bottolomey, Lara Peake e Envia Lewis. ☻☻☻☻

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