sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

PL►Y: Intruso

Saoirse e Paul: isso é tão Black Mirror.
 
Quando Foe começou a ser produzido recebeu bastante atenção da mídia, especialmente por contar com dois nomes aclamados, afinal, ninguém convence Saoirse Ronan (com suas quatro indicações ao Oscar no currículo) e Paul Mescal (recém saído de sua indicação ao Oscar por Aftersun/2022) a embarcar em um projeto se não for para ser levado a sério. Em se tratando de uma ficção científica de baixo orçamento, a presença de ambos é ainda mais relevante.  No entanto, o filme quando o longa estreou recebeu críticas mornas, principalmente pelo tratamento que o diretor Garth Davis imprime ao longa. A história é promissora baseada no livro de Iain Reid (que assina o roteiro ao lado de Davis): em um mundo devastado, um casal de jovens fazendeiros tentam driblar as dificuldades enfrentadas em um planeta Terra seco e poeirento. O cenário é bastante desolador e cientistas exploram cada vez mais as possibilidades da humanidade viver em estações espaciais. Acontece que quando recebem a visita de Terrance (Aaron Pierre), o casal Junior (Mescal) e Henrietta (Saoirse) descobre que ele foi selecionado para viver em uma dessas estações espaciais, mas ela deverá ficar na Terra na companhia de um clone do esposo (sim, você já viu isso em um episódio de Black Mirror). Embora o roteiro enrole nessa parte, ele nunca deixa claro o motivo dela não poder ir. Assim, o casal logo entra em crise e tudo parece tomar o rumo de uma terapia de casal. Existe propositalmente um jogo de contradições, seja nos diálogos e nas posturas dos personagens em crise, mas que se reconcilia e os diálogos continuam refletindo um relacionamento já desgastado proporcionando à Júnior uma postura cada vez mais estranha, pudera, o roteiro parece lhe oferecer mais uma tortura psicológica do que o envio para a tal estação espacial que nunca acontece. Eis que surge uma reviravolta e o espectador se vê diante de um plot twist que poderia ser envolvente se ele já não estivesse cansado da narrativa circular que enfrentou até ali. Se o filme enfrentou problemas até sua grande sacada, a coisa não melhora muito depois que sua grande pegadinha é revelada e o roteiro ainda precisa resolver o conflito entre o casal no desfecho decepcionante. O trio protagonista tem a tarefa árdua de segurar o interesse da plateia em um filme que não encontra o ritmo certo em sua narrativa: se alonga demais no primeiro ato, gera interesse quando boa parte da plateia já dormiu e não consegue amarrar a boa ideia em que se ampara. O resultado é bastante irregular, uma pena já que Paul Mescal entrega mais um bom trabalho em um personagem complicado, mas que acaba sendo prejudicado pela direção perdida de Garth Davis. Ele parece tão preocupado em enganar o espectador que acaba esquecendo da história que precisa contar. O filme está em cartaz no Prime Video e teve uma bilheteria decepcionante de pouco mais de duzentos mil dólares. 

Intruso (Foe / EUA - Austrália - Reino Unido) de Garth Davis com Paul Mescal, Saoirse Ronan, Aaron Pierre, William Freeman e David Woods.

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