Plummer: performance de gente grande. |
Às vezes penso se existe uma espécie de competição para quem encontra o pior título para uma produção estrangeira quando ela chega no Brasil. A Rota Selvagem foi um desses casos, o título me parece tão descabido que o filme (em inglês Lean on Pete) estava entre meus interesses quando foi lançado no exterior, mas ficou fora do meu radar quando chegou por aqui (com muito atraso) com este título que diz nada sobre o filme. Meu interesse pelo filme começou por ser o primeiro filme do diretor Andrew Haigh para o cinema após sua aclamação por 45 Anos (2015) que rendeu a primeira indicação ao Oscar para a veterana Charlotte Rampling. O cineasta ainda assina o roteiro baseado no livro de Willy Vlautin que narra a trajetória do adolescente Charlie (Charlie Plummer), que vive com o pai Ray (Travis Fimmel) em uma cidade para a qual se mudaram a pouco tempo. Para ganhar algum dinheiro, Charlie começa a trabalhar para Del (Steve Buscemi) no cuidado com cavalos para campeonatos e exposições. O rapaz acaba se apegando a um experiente cavalo de corrida, Pete, que já teve dias melhores em sua carreira. Del não parece ser um sujeito muito bacana, mas por vezes parece se importar mais com o garoto do que o pai que soa bastante irresponsável. A situação familiar do menino não é muito promissora, mas ele sempre lembra de uma tia, que demonstrava se importar muito com ele e que já tentou conseguir a guarda diante das desventuras que vivenciou com o pai. Eis que um golpe do destino irá deixar o menino por conta própria e, junto com a ameaça do encaminhamento de Pete para o sacrifício, deixam Charlie ainda mais perdido. Haigh tem em mãos um filme de passagem para a vida adulta, com a diferença de ter situações tão carregadas que seria um desafio por si só alinhavar tudo isso sem cair no exagero. Situações como negligência familiar, luto, fome, situação de rua, roubo e violência atravessam a vida do menino em uma narrativa de desamparo que não é para qualquer um (seja para o espectador assistir ou o diretor conduzir na telona). Por vezes o filme é bastante irregular, como na parte em que Charlie e Pete vagam pelo deserto (e o filme se arrasta junto com eles), mas o longa também revela que Haigh tem boas sacadas para cenas de movimento, como as cenas de corrida ou aquela do atropelamento (talvez a melhor do filme). Embora Haigh já seja experiente, o que segura o filme mesmo é o ótimo desempenho de Charlie Plummer. Digno de prêmios, ele enfrenta momentos complicados na pele do protagonista e torna fácil o espectador acompanhar suas lágrimas durante o filme. É o jovem que salva o filme de suas irregularidades e o faz digno de uma olhada, ainda mais com o lançamento do novo filme de Andrew Haigh, All of Us Strangers que recebe cada vez mais espaço nas premiações indies. É sempre interessante ver como um diretor tenta se desviar de sua zona de conforto atrás das câmeras.
A Rota Selvagem (Lean on Pete / EUA - 2017) de Andrew Haigh com Charlie Plummer, Steve Buscemi, Chloë Sevigny, Travis Fimmell, Lewis Pullman, Steve Zahn e Alison Elliot. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário