Ballister e Nimona: união de excluídos. |
Desde pequeno, Ballister sonha em ser um cavaleiro, mas sempre soube que era uma tarefa difícil já que a função no reino é desempenhada por nobres. Mesmo com a origem pobre, ele investe em seu sonho e sua trajetória se torna um exemplo para a quebra dos paradigmas daquele reino murado para proteger dos monstros que vivem do lado de fora. Com os olhos voltados para Ballister, seu grande momento será no dia em que ele se formará e a rainha irá honra-lo com o título de cavaleiro e fazê-lo um ponto de partida para que novas pessoas humildes possam ultrapassar os limites impostos por aquela sociedade. No entanto, no que era para ser o dia mais feliz de sua vida, Ballister acaba sendo acusado de um crime e passa a ser perseguido por todos, até pelo seu fiel amigo Goldenloin. Considerado um fugitivo, ele não pode contar com mais ninguém até que ele é procurado por Nimona, uma menina diferente que acha o máximo o fato dele ser o vilão da história. Mas Ballister não é o vilão. Ele apenas precisa de ajuda para provar a inocência e, meio contrariado, aceita o apoio da menina que apresenta poderes de metamorfose, sendo capaz de assumir a aparência de pessoas e animais distintos. Apesar dele perguntar o tempo inteiro o que Nimona é, ela apenas se define como "Nimona", o que já é muita coisa. A animação de Nick Bruno e Troy Quane baseado na graphic novel de mesmo nome é quase um manifesto conta a ideia conservadora de colocar as coisas em caixinhas com suas classificações, no confronto reducionista do nós (o padrão) vs eles (os diferentes). Nimona é o que quer na hora que quer e, não por acaso, a amizade de Ballister (com voz de Riz Ahmed) e Ambrosius Goldenloin (voz de Eugene Lee Yana) sempre pretende ser algo mais. A ideia e a estética moderninha tem no entanto uma mensagem muito mais importante a dizer: o que importa não são os rótulos, mas as pessoas. Neste ponto, seja a índole, a amizade ou o amor, servem de contraponto para as mentiras e relações de poder que envolvem inveja, cobiça, traições e outras situações nada nobres. O grande truque do filme é em momento algum explicitar isso em diálogos, mas em ações para o espectador possa presenciar esse princípio da forma mais lúdica possível. Assim, em momento algum duvidamos das virtudes de Ballister, assim como descobrimos que toda fúria de Nimona na verdade é por conta da ideia de nunca ter sido compreendida ou acolhida em suas peculiaridades. Para ela, diante de um mundo que a rejeita, cabe apenas revidar, ou até, destruí-lo. O mundo aqui é uma mescla de medieval e futurista, mas que deixa bem claro que do que adianta tantas inovações se as ideias retrógradas permanecem? Com marcas da cultura queer em seu roteiro e a amplitude do alcance proporcionado pela Netflix obviamente que o filme gerou alguma polêmica em seu lançamento, mas foi lembrada com louvor na lista dos cinco finalistas da categoria de melhor animação no Oscar desse ano. A indicação consagra não apenas a estética do filme que foge do visual "fofinho" que se tornou comum ao gênero, mas também a ousadia de trazer personagens mais complexos para uma animação made in Hollywood.
Nimona (EUA-2023) de Troy Bruno e Nick Quane com vozes de Chloë Grace Moretz, Riz Ahmed, Eugene Lee Yang, Frances Conroy, RuPaul e Lorraine Toussaint. ☻☻☻☻
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