Domingo (ao centro): uma das melhores atuações da temporada 2023. |
Bayard Rustin nasceu em 1912 na Pensilvânia, sua mãe tinha apenas 16 anos quando deu a luz ao menino que foi criado pelos avós. Devido a influência familiar tornou-se membro de um grupo cristão chamado Sociedade dos Amigos, algo que influenciou diretamente suas ações como ativista no futuro. Na Universidade começou a se envolver em movimentos estudantis e mais tarde com a luta pelos direitos civis. Muitos apontam Rustin como o braço direito de Martin Luther King, de quem era amigo e conselheiro, de forma que a importância de Bayard Rustin se reflete na organização da Marcha sobre Washington para Trabalho e Liberdade. A Marcha reuniu mais de 250 mil pessoas em uma manifestação pacífica em 28 de agosto de 1963 e entrou para a história pelo discurso antológico de King. No entanto, a História não costuma lembrar muito de Rustin, muitos apontam que é por conta de assumido sua homossexualidade desde sempre - isso custou ver seu nome envolvido em polêmicas e acusações, ao ponto de ser rotulado como pervertido e agressor sexual. Por conta disso, por várias vezes, o próprio movimento do qual participava o boicotava. Rustin sempre soube que o fato de ser um homem negro e gay tornaria sua vida bastante complicada em uma sociedade em que o preconceito era legitimado pelas autoridades e, por isso mesmo é um personagem que vale ser lembrado. Ou seja, Rustin é um personagem cheio de atributos capaz de render um filme interessante e o diretor George C. Wolfe sabe disso. O diretor realizou anteriormente A Voz Suprema do Blues/2020, em que já demonstrava sua habilidade para conduzir seus atores em performances marcantes (tanto que Viola Davis e Chadwick Boseman foram indicados ao Oscar), aqui o show é de Colman Domingo, que está excelente no papel principal. Colman acaba de receber sua primeira indicação ao Oscar de melhor ator por seu trabalho (que já o havia indicado ao BAFTA, Critics Choice e Globo de Ouro) e de fato é muito merecido por explorar todos os desafios enfrentados pelo personagem. Ele consegue transparecer todas as virtudes de seu personagem, sem perder de vista suas vulnerabilidades, especialmente quando sua sexualidade era apontada como um demérito. Embora o filme se perca um pouco no início atribulado, aos poucos ele encontra seu ritmo conforme Rustin se revela para o público enquanto organiza a famosa marcha sobre Washington. Entre toda a organização do evento, o filme também apresenta a inteligência de Rustin em ótimos diálogos além do envolvimento de Rustin com um jovem pastor, que traz um pouco o peso da religiosidade em sua vida, mas também a única opção que tinha de viver seus amores escondido em meados do século XX. Rustin é um filme que se torna melhor conforme abraça o que havia de mais controverso em seu personagem, criando um resultado bem mais verossímil do que o visto de Leonard Bernstein em Maestro. Enquanto Bradley Cooper é o exagero em pessoa (o que não o impediu de estar no páreo de melhor ator) na vontade de ser o personagem, Colman Domingo está na medida certa como o ativista. Vale lembrar que Colman poderia já ter sido indicado como ator coadjuvante por seu papel de cafetão barra pesada em Zola (2020), um papel completamente diferente que só comprova o quilate de seu talento.
Rustin (EUA-2023) de George C. Wolfe com Colman Domingo, Gus Halper, CCH Pouder, Johnny Ramey, Chris Rock, Jeffrey Wright e Glynn Turman. ☻☻☻
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