Não é exagero dizer que Gal Costa é mais do que uma cantora brasileira. Gal na verdade se tornou mais do que uma referência, se transformou num verdadeiro ícone da música. Sua voz, álbuns, shows históricos e a forma como sua personalidade atravessou décadas no cenário musical brasileiro fez dela uma artista reconhecida internacionalmente. A riqueza de sua trajetória é muito bem resgatada no documentário O Nome Dela é Gal (2017) dirigido por Dandara Ferreira exibido pela HBO em formato de minissérie em quatro episódios. O documentário é bastante rico em entrevistas e cenas de arquivo e se tornou uma bela homenagem para Gal antes de seu falecimento em 2023. Eis que Dandara resolveu fazer um filme sobre os primeiros anos de Gal como artista, com sua chegada ao Rio de Janeiro, quando Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia começavam a chamar atenção da mídia e deixavam claro que a baiana também deveria encontrar sua personalidade como artista. A ideia parece mais do que interessante, especialmente se você assistiu ao documentário e percebe que Dandara tinha material de sobra para realizar uma ótima biopic. Some isso ao trailer com atores dedicados a parecerem com os artistas citados (e muitos outros que aprecem ao longo do filme) e a ideia parecia não ter como dar errado, ou pelo menos, tinha tudo para dar certo se o roteiro não fosse um dos mais preguiçosos do gênero. De nada vale o esforço da global Sophie Charlotte para carregar o filme nas costas como Gal se o roteiro tem tão pouco a lhe oferecer, o pior é que o roteiro é assinado por três pessoas para fazer uma colagem muito pobre de fatos sobre a artista que qualquer fã está cansado de saber. Cadê a história? Da cena em que Gal aprende a dominar a voz ainda pequena com a cabeça dentro de uma panela, fato que ficou conhecido numa antológica entrevista ao Jô Soares ao dia em que é chamada de piolhenta na rua, tudo soa como um grande déjà vu. De nada adianta caprichar na estética de algumas cenas para evocar a psicodelia do período em contraste com a repressão da ditadura militar se está tudo frouxo e desalinhado, as situações são jogadas na montagem do filme e nunca são desenvolvidas, resultando num amontoado de anedotas sobre a artista. Com isso, existe o prejuízo no ritmo do filme que nunca decola, não alcançando a atmosfera certa para momentos tensos atravessados por Gal e sua turma. Com o roteiro capenga, resta curtir o elenco se esforçando para parecer com artistas consagrados como a própria Dandara encarnando Maria Bethânia e Rodrigo Lelis como Caetano Velloso, além da boa trilha sonora com músicas que por vezes são apresentadas na voz de Gal e por outras na voz da própria Sophie Charlotte (que soa esquisitíssimo considerar que a voz da atriz seja tão impressionante quanto todo o elenco diz o tempo inteiro, era melhor ter deixado a atriz dublar as canções o tempo todo). Em termos de atuação, Shophie está bem, mas fico imaginando como ela voaria muito mais alto se lhe dessem uma personagem para encarnar ao invés de uma personalidade. Por mais que ela se esforce, o filme não empolga e soa estacionado a maior parte do tempo, resultando numa obra abaixo do que Gal merecia.
Meu Nome é Gal (Brasil/2023) de Dandara Ferreira e Lô Politi com Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Luis Lobianco, Dandara Ferreira, Dan Ferreira, Ruria Duprat, Chica Carelli, Camila Márdila e George Sauma. ☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário