Leáud: muso francês no mundo de Kaurismäki. |
O finlandês Aki Kaurismäki é um dos cineastas europeus mais cultuados do mundo e não é a toa que a MUBI preparou uma retrospectiva da carreira do diretor. No momento em que decidi fazer um #FimDeSemana dedicado à obra dele, foi difícil escolher apenas três filmes para escrever. Acabei escolhendo para começar este Contratei um Matador Profissional (1990), sua primeira aventura cinematográfica fora de seus país. Se o diretor já era bastante conhecido pelo seu estilo particular, com silêncios, interpretações contidas e um senso de humor seco, aqui ele agrega outros elementos que tornam o filme ainda mais interessante. A começar por uma atmosfera de film noir com tempero Hitchcockiano em torno de um homem infeliz que decide deixar de viver. Na Inglaterra do final dos anos 1960, o francês Henri Boulanger (Jean-Pierre Leáud) acaba de ser demitido após quinze anos de serviços prestados à uma empresa. O patrão não gasta muito tempo com justificativas e ressalta que diante de tempos de crise, os cortes se iniciam pelos estrangeiros. Henri já parecia um tanto deprimido com a vida solitária e perder o emprego que lhe preenchia os dias o deixa ainda pior. Ele começa a investir em tentativas de suicídio que nunca dão certo e, já que não se julga competente nem para acabar com a própria vida, ele resolve ir à um estabelecimento onde possa encontrar alguém que faça o serviço. Gastando seus poucos tostões com um matador profissional, ele imagina que em breve seu desespero terá fim. Só que ele conhece uma vendedora de flores, Margaret (Margi Clark) e os dois se apaixonam. Ali seria um recomeço para Henri, mas ele precisa entrar em contato com o assassino enviado para acabar com sua vida e dizer que mudou de ideia - o que complica muito o romance do casal. A trama demonstra bastante o humor peculiar de Kaurismäki e um tanto de seu olhar sobre a vida, já que enquanto Henri se dá conta que ainda lhe resta esperança para viver quando chega à sua decisão mais radical, enquanto isso também acompanhamos a trajetória do assassino às voltas com seus próprios dilemas perante a mortalidade. O filme avança sem maiores alardes promovendo alguns encontros curiosos entre o trio principal até terminar de forma irônica. Os conhecidos cenários de cores fortes e objetos gastos do diretor funcionam muito bem para ambientar a trama. O muso de François Truffaut, Jean-Pierre Leáud (que já foi aquele menino irresistível de Os Incompreendidos/1959) compõe um personagem de alma desgastada que reencontra uma razão de viver com um charme quase inexplicável enquanto Margi Clark parece uma das estrelas de Hitchcock com suas roupas de cores vivas e cabelo platinado. Em contraponto com os dois está Kenneth Colley com contornos humanísticos perante a mortalidade. Pode não ser o filme mais querido de Kaurismäki, mas é um dos mais curiosos e com uma premissa tão interessante que foi até reciclada no brasileiro Não Tem Volta (2023) de César Rodrigues e estrelado por Rafael Infante e Manu Gavassi.
Contratei um Matador Profissional (I Hired a Contract Killer / Finlândia - Suécia - França - Alemanha - Reino Unido / 1990) de Aki Kaurismäki com Jean-Pierre Leáud, Kenneth Colley, Margi Clark, Nicky Tesco e Charles Cork. ☻☻☻
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