Jean e Maeve: segredos de família.
Irene (Maeve Jinkins) vive cuidando da casa, do filho (Jean de Almeida Costa), do pai vítima de AVC e ainda encontra tempo para ajudar o esposo (Rômulo Braga) na carvoaria de pequeno porte que resolveram montar em casa, afinal, sem sempre o marido consegue algum bico para ganhar dinheiro. O dinheiro é sempre pouco e não tem muita perspectiva de melhoras e, conforme uma nova agente de saúde (Aline Marta) faz questão de ressaltar, a situação do pai de Irene também só tende a piorar. Uma olhada atenta aqui, uma sugestão ali e surge uma ideia que pode ajudar a família a resolver seus problemas financeiros, mas para isso, precisam tomar uma decisão, digamos... macabra. Logo surge Miguel (Cesar Bordón), um homem que seria misterioso se a plateia não descobrisse logo no que está metido ao simular a própria morte. Acostumado a uma vida de luxo, ele estará confinado àquela casa desprovida de recursos enquanto a família tenta fingir que tudo segue como antes, ou pelo menos tentam enquanto o dinheiro que começa a entrar começa a gerar alguma estripulias. Um sorvete aqui, um perfume ali, uma moto de presente para um amigo... escrito e dirigido por Carolina Markowicz (criadora da ótima série Ninguém Tá Olhando/2019 da Netflix, que infelizmente durou somente uma temporada) o filme joga o tempo todo com o absurdo, mas sem perder a esperteza para misturar drama e comédia ao ponto de você não saber muito bem como deveria reagir ao que se vê na tela. Os diálogos são um verdadeiro primor e as interpretações agarram as entrelinhas do roteiro para depois mergulhar nelas sem receios. Falando em interpretações, Maeve Jinkins está excepcional como Irene, uma mulher sofrida e que aos poucos não faz muita questão de manter os escrúpulos diante da realidade que se torna cada vez mais imprevisível. A atriz é seguida de perto pelo menino Jean que tem um talento incrível para fazer graça com as frases mais simples. Seus diálogos com Miguel são uma preciosidade e não deixa de lançar um olhar interessante sobre a infância perante uma realidade de absurdos. O filme também funciona como uma metáfora perfeita para os tempos de pandemia no Brasil em que vidas foram consideras descartáveis em nome do dinheiro que falava mais alto (enquanto se tornava cada vez mais escasso). Desenvolvido com precisão até seu desfecho, Carvão se mostra um dos filme mais empolgantes dos últimos anos, o que rendeu para Camila o prêmio de melhor filme de estreia no Grande Prêmio Cinema Brasil (agora o motivo de Maeve Jinkins não ser indicada ao prêmio de melhor atriz e o roteiro original perder para Marte Um me parece um mistério maior do que o paradeiro de Miguel no filme, enfim, o GP está realmente ficando com cara de Oscar). Carvão também perdeu a chance de disputar um lugar na disputa de melhor filme estrangeiro nesse ano, embora fosse o grande favorito de alguns votantes. lançado nos cinema discretamente no final do ano passado, o longa está disponível para aluguel digital em plataformas digitais e vale um lugar entre seus filmes favoritos sobre a face mais horripilante do ser humano. O novo filme de Markovicz está na disputa por uma chance de ser o representante brasileiro no Oscar2024 com seu novo filme, Pedágio (o resultado sairá dia 12 de setembro), filme que renderá uma homenagem no Festival de Toronto como cineasta emergente. Essa brasileira vai longe!
Carvão (Brasil/2022) de Carolina Markowicz com Maeve Jinkins, Cesar Bordón, Jean de Almeida Costa, Pedro Wagner, Rômulo Costa e Camila Márdila. ☻☻☻☻☻
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