Desde a sua estreia, The Crown se tornou uma espécie de menina dos olhos da Netflix. Quando estreou, cada cena e cada detalhe de figurino desta produção de Stephen Daldry concebida pelo oscarizado Peter Morgan (de A Rainha/2006) deixava claro que estava disposta a se tornar uma das séries mais sofisticadas já produzidas. As premiações logo caíram de amores por The Crown em sua estreia, mas o mais complicado ainda estava por vir. Diante dos desafio de contar o reinado da Rainha Elizabeth desde sua posse (aos 25 anos) até os dias atuais, a série cria para si o grande desafio de condensar décadas de história em uma dezena de episódios por temporada. Se os primeiros anos de coroa deram corpo à série (com Claire Foy na pele da soberana e Vanessa Kirby como a irmã Margot), a segunda temporada ganhou ainda mais densidade. Lembro que na estreia os primeiros episódios não me prendiam muito a atenção, na segunda tudo estava mais ajustado e no segundo episódio a perfeição se instaurou. Diante do bom resultado fiquei preocupado com as mudanças que viriam a seguir, com uma Elizabeth mais velha vivida por Olivia Colman (e Margot vivida por Helena Bonhan Carter). Será que jogar a trama vários anos à frente teria o efeito desejado? Na terceira temporada, Peter Morgan já demonstrou que valeu a pena. Além dos novos atores darem conta com perfeição das personagens mais maduras, ainda deu destaque para um Príncipe Charles de partir o coração (cortesia de Josh O'Connor, o bom ator revelado no cult God's Own Country/2017) em sua paixão proibida por Camila Parker Bowles e a impressão que o desafio maior estava por vir com a quarta temporada. Lançada na Netflix no dia 15 de novembro a série precisou dar conta de inserir a Lady Di (Emma Corrin) e a primeira ministra Margaret Thatcher (Gillian Anderson) em sua lista de personagens famosos. O resultado é um deleite. Embora alguns personagens já consagrados recebam menos destaque nesta temporada (como Príncipe Phillip e a própria Margot), a série sabe direitinho como abordar Diana e Thatcher dentro do universo que construiu até aqui. Charles partia nosso coração na temporada anterior, agora ele subverte esta emoção com sua amargura diante de não poder ter a mulher que realmente ama e, neste conflito com a coroa, a doce Diana também paga um alto preço. Um dos trunfos fenomenais desta temporada é o trabalho de Emma Corrin como Diana, já que a jovem atriz (que promete fazer bonito em sua carreira) capta a essência da ex-esposa de Charles de forma magistral. O olhar, o sorriso tímido, a inclinação da cabeça, ela está perfeita e junta-se às atuações brilhantes que a série já coleciona em quatro anos de existência - e se beneficia muito da melancolia do desfecho que todos nós sabemos qual será. Para além deste conto de fadas desconstruído, temos o trabalho de Gillian Anderson como Thatcher, a eterna agente Scully de Arquivo X também realiza um trabalho memorável (ainda mais com o peso de rivalizar com o trabalho oscarizado de Meryl Streep no filme A Dama de Ferro/2011. Embora siga por um caminho diferente, Gillian consegue construir sua personagem com maestria e sensibilidade, completando o time de grandes atrizes que contracenam nestas temporadas. Diante do espetáculo que a série entrega em sua melhor temporada muita gente discute o que é verdade ou não na privacidade da família real que aparece na série, mas esta polêmica é pequena diante da qualidade dramatúrgica da série. Se as anteriores tinham seus méritos inegáveis, esta acrescenta mais uma: é a mais viciante de todas! Fico imaginando o duelo que a série travará nas premiações do próximo ano e, espero, que seja coroada como uma das melhores do ano - embora a família real considere a pior de todas (e se você assistiu sabe exatamente o motivo).
The Crown - 4ª Temporada (Reino Unido/Estados Unidos - 2020) de Peter Morgan com Olivia Colman, Tobias Menzies, Helena Bonhan Carter, Josh O'Connor, Emma Corrin, Gillian Anderson, Emerald Fennell, Marion Bailey, Erin Doherty, Stephen Boxer, Tom Byrne e Angus Imrie. ☻☻☻☻☻
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