quinta-feira, 17 de março de 2022

PL►Y: Amor, Sublime Amor

 
Jets x Sharks: versão repaginada para o século XXI. 

Faço parte do time que não entendeu muito bem os motivos de Steven Spielberg resolver fazer uma nova versão do clássico Amor, Sublime Amor, musical de 1957 que ganhou sua versão para os cinemas em 1961 pelas mãos de Robert Wise - levou para casa dez Oscars (incluindo Melhor Filme e Diretor), perdendo somente o de roteiro adaptado. Mexer num clássico destes, considerado já a versão definitiva, exige um bocado de coragem e bastante cacife, o que poucos nomes em Hollywood possuem ultimamente. Spielberg argumenta que o filme de Wise é um dos seus favoritos, mas que sempre sonhou em levar o musical para as telonas em uma versão renovada. Considerado para chegar aos cinemas em 2020 e adiado por conta da pandemia, a versão de Spielberg chegou nos cinemas no final do ano passado e naufragou nas bilheterias, porém, faz algumas semanas que pode ser apreciado no Disney+ (e se quiserem comparar, o clássico de 1961 está no Telecine Play) e vale a pena. Spielberg capricha no uso das cores em contraste com uma cinzenta Nova York e traz um tempero mais latino para a história de Romeu e Julieta transposta para a Nova York da década de 1950. Criada por Arthur Laurents e música de Steve Sondheim, a história se sustenta no confronto de uma história de amor entre dois grupos de jovens imigrantes, os Jets (descendentes de anglo-saxônicos, especialmente irlandeses) e Sharks (os latinos, sobretudo porto-riquenhos). O Romeu em questão é Tony (Ansel Elgort) e sua Julieta é Maria (Rachel Zegler), ele já fez parte dos Jets mas depois de problemas com a justiça tenta levar uma vida mais sossegada ajudando na loja da imigrante Valentina (Rita Moreno, que foi oscarizada como coadjuvante na versão original) enquanto seus colegas continuam a incentivá-lo a voltar aos confrontos com os latinos do bairro. Já Maria vive sossegada na casa do irmão Bernardo (David Alvarez) e da cunhada, Anita (Ariana DeBose que já levou vários prêmios pelo papel que antes foi de Rita Moreno) até que em um baile encontra Anton e um conflito sangrento se torna eminente. Spielberg se sai muito bem na direção de seu primeiro musical. As cenas de dança e cantoria são cheias de emoção e energia, as coreografias parecem mais rápidas que de costume e as ideias atualizadas sobre preconceitos variados parecem bem localizados na história, porém, enquanto os coadjuvantes roubam a cena, o casal Ansel e Zegler não alcançam todas as notas quando precisam para trazer a tensão que o filme merece em sua reta final. Ansel, apesar de toda a controvérsia de sua vida pessoal, ainda tem a carinha de bom moço convincente para que a ingênua Maria caia em seus encantos, já Rachel Zegler faz o papel direitinho, mas parece coadjuvante de sua própria história, especialmente pela força que Ariana DeBose atribui à Anita. É estranho pensar que quando o filme termina, ele pareça um tanto apressado, mesmo com mais de duas horas de exibição. Parece que o longa se garante na parte do espetáculo, mas na hora de comover ele se torna apressado demais para que o espectador possa digerir tristezas que estão ali. No entanto, embora o público não tenha comparecido para ver o filme nos cinemas, a Academia aprovou o filme lhe rendendo sete indicações ao Oscar: filme, diretor, atriz coadjuvante (DeBose), design de produção, som, figurino e fotografia (num ano em que três concorrentes a melhor filme são refilmagens).

Amor, Sublime Amor (West Side Story/ EUA -2021) de Steven Spielberg com Rachel Zegler, Ansel Elgort, Ariana DeBose, Rita Moreno, David Alvarez e Mike Faist. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário