sexta-feira, 2 de setembro de 2011

CATÁLOGO: EXistenZ


Law e Jennifer: jogo tedioso entre lubrificantes e lambidas.

Nem todo mundo tem o estilo de David Lynch para lidar com o bizarro, na década de 1980 o diretor que David Cronenberg chegou até a realizar algumas proezas que arranhavam no estilo do diretor de Coração Selvagem (1990) e O Homem Elefante (1980). A diferença é que Cronenberg sempre teve um interesse pelo nojento, se conseguia proezas estimulantes como Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988) e até Crash - Estranhos Prazeres (1996), por outro lado tinha as gelecas de A Mosca (1986) e este EXistenz (1999). EXistenZ acabou servindo para colocar um ponto final nos excessos do diretor. Vendo o filme hoje, depois que o diretor se reinventou com Spider (20002), sendo aclamado com Marcas da Violência () e estando prestes a lançar A Dangerous Method (que está cotado para as premiações deste ano), mal reconhecemos o diretor na tosqueira de  EXistenZ. O filme parece um rascunho de Matrix (lançado no mesmo ano) e até A Origem, mas é tão mal escrito e dirigido que deve ser lembrado como o pior filme do diretor. As atuações de Jennifer Jason Leigh e (o então novato) Jude Law também não ajudam, já que não conseguem nunca ultrapassar o nível da caricatura. O título se refere a um jogo virtual feito a partir de pessoas conectadas a uma criatura criada em laboratório a partir de genes anfíbios (e que parece um daqueles moldes de posto de saúde para explicar o aparelho reprodutor feminino). Para jogar, as pessoas precisam fazer um furo (as chamadas bio-portas)  na lombar para meter um treco que parece um cordão umbilical de borracha. Retire desses detalhes as analogias que quiser, mas tudo é apressado e mal desenvolvido absurdo para se retirar algo de relevante. Alegra Geller (Jennifer) é uma designer de games que é uma espécie de musa dos jogadores até começar a sofrer atentados. Nessa confusão ela é ajudada por Ted Pikul (Law), um estagiário, virgem nos jogos (me perdoem o termo, mas as cenas em que fazem o buraco a bio-porta nas costas de Jude são mais eróticas do que os beijinhos que rolam no filme) para salvar EXistenZ da destruição. Depois de algumas cenas de correria e perseguições sonolentas onde encontram personagens esquisitos (e que não acrescentam muita coisa), os dois começam a jogar na realidade virtual. O problema é que a realidade virtual é tão sem graça como suas vidinhas sem graça, sendo  vivenciada de forma tão artificial pelos atores que é impossível conter o riso ("acho que o jogo quer que façamos amor!", "acho que o jogo me fez dizer isso", "acho que o jogo quer que eu mate alguém"). Tudo soa trash e datado, como os piores momentos que Cronenberg cometeu na década de 1980. Ao final temos certeza que Cronenberg tinha um boa ideia, mas não fazia a mínima de como desenvolvê-la. Os defensores podem dizer que o diretor era um visionário com relação às relações estabelecidas pelas máquinas, que elas fariam parte de nós e blábláblá, mas é preciso ter um bocado de boa vontade para imaginar que EXistenZ tem ideias mais importantes do que ver Jennifer Jason Leigh passanto lubrificante no orifício na bio-porta do estagiário ou deste lambendo o a bio-porta de Allegra. Sorte que diante do desastre, Cronenberg viu que estava na hora de voltar a surpreender - nem que fosse mudando radicalmente o seu estilo.

EXistenZ (Canadá/1999) de David Cronenberg com Jennifer Jason Leigh, Jude Law, Ian Holm, Don McKellar, Christopher Eccleston, Sarah Polley e Willem Dafoe.

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