Deborah: boa atuação em adaptação de sucesso editorial.
Uma amiga minha disse que Bruna Surfistinha é a "garota de programa que deu certo! Com trocadilho e tudo!". Dito isso, acho que Marcelo Baldini assumiu uma série de desafios quando resolveu adaptar o livro de Bruna para o cinema. Um deles era lidar com uma história que não era novidade para ninguém: a garota de classe média que começa a se prostituir, cria um blog que causa sensação na internet ao contar detalhes de seus dias (e noites) de labuta com clientes e, mais tarde, o lançamento de suas memórias no best seller O Doce Veneno do Escorpião. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, fazer um filme de forte carga sexual é uma das coisas mais complicadas que existem. Se escancarar fica pesado demais, perde distribuidores, público, salas exibidoras... se maneirar na pimenta fica sem graça e artificial... e qualquer uma dessas escolhas corre o risco de resultar num filme moralista ou vulgar. Vendo o filme percebe-se que Baldini não queria ser uma coisa nem outra, apesar de toda a curiosidade e especulações, o diretor quis fazer um filme sério. Claro que tem cenas de sexo, mas o diretor nunca perde de vista sua personagem e a forma como esta lida com seus sentimentos e angústias perante a profissão mais antiga do mundo. Essa busca de um equilíbrio entre o comercialmente viável e as expectativas de um filme sobre prostituição rendeu ao filme mais de um milhão de espectadores e, muito se deve, à sua atriz Déborah Secco. Não apenas por Déborah ter um vasto fã clube de marmanjos, mas porque a garota mostra que longe dos tipos cabeça-oca que insistem em lhe dar na TV, ela pode se tornar uma atriz de notas mais dramáticas. É corajosa a forma como enfrenta a transição de Bruna de garota meio tímida para um furacão sexual que torna-se a preferida de seu local de trabalho. Baldini não poupa recursos para desglamourizar qualquer ilusão de um mundo marcado por humilhações, drogas e conflitos internos que precisam se esconder por trás de uma personagem. O roteiro faz tudo direitinho (até demais), mostra Bruna, ainda Raquel, em sua família onde os quesitonamentos eram deixados de lado com um sonoro "vamos mudar de assunto", os problemas na escola (bullying again!), a chegada ao prostíbulo, o ciúme das colegas, os primeiros clientes, as ambições, a ascenção, a queda, a retomada onde Bruna tem que lembrar quem ela é ou quer ser. Baldini não tenta fazer da trajetória de Bruna agradável para o espectador, mesmo que algumas cenas flertem com o humor (os clientes mais excêntricos, a cotação dada a eles no blog, a cena no salão de cabelereiros) o tom está longe de ser leve. Baldini além de ter escolhido bem sua protagonista, também foi muito feliz na escolha de seu elenco de apoio, com destaque para Drica Moraes, Fabiula Nascimento, Cristina Lago e Cássio Gabus Mendes (que tem encontrado nas telas alguns de seus melhores momentos). Bem produzido e filmado, Bruna Surfistinha chega a surpreender pela honestidade que é feito.
Bruna Surfistinha (Brasil/2011) de Marcelo Baldini com Déborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Fabíula Nascimento, Cristina Lago, Juliano Cazarré e Clarisse Abujamra. ☻☻☻
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