Nascimento: querendo pegar o Oscar na marra!
Agora que a continuação de Tropa de Elite é o representante oficial do Brasil na disputa à vaga de Filme Estrangeiro no Oscar (derrotando títulos como Bruna Surfistinha e Malu de Bicicleta), torna-se meio que inevitável especular sobre as chances do filme. Eu prefiro ser direto e dizer para o pessoal não se empolgar, nem Cidade de Deus (2002), com toda sua projeção, conseguiu uma indicação na categoria - sendo redescoberto no ano seguinte com quatro vistosas indicações (direção, roteiro adaptado, edição e fotografia). Se Tropa de Elite 2 conseguir sua vaguinha eu vou ficar muito surpreso, menos pelas qualidades do filme e mais pela capacidade dos votantes de resistirem ao tom caótico impresso por José Padilha (já estou até vendo o filme ficando de fora e os críticos explicando que só os membros mais velhinhos costumam assistir os concorrentes às vagas de Filme Estrangeiro). Todo mundo sabe que este segundo episódio é mais maduro que o primeiro, que os personagens receberam mais camadas do que no longa anterior, mas será que a Academia quer saber disso? Tanto esforço tornou o filme o maior sucesso de todos os tempos do cinema brasileiro e é merecido (e talvez até o primeiro tivesse feito o mesmo se não fosse por toda aquela polêmica da pirataria). Ouvi dizer que o filme teve boa receptividade nos EUA e que teve uma campanha de divulgação que ignorava o fato de ser uma sequência (e o roteiro é tão coeso que torna-se independente do anterior), os distribuidores foram espertos, até por conta do primeiro não ter sido distribuído por aquelas bandas depois de vencer o Festival de Berlim e ser chamado de fascista por críticos americanos. Toda esta situação me lembra a conversa que tive com alguns amigos na época: ver Tropa de Elite criticamente é uma coisa, vê-lo como entretenimento é outra (basta ver o bando de desmiolados que saem do cinema inspirados a matar bandidos por aí), da mesma forma, vê-lo no contexto de nossa realidade tupiniquim é uma coisa, vê-lo dissociado do que vemos nos telejornais todos os dias e outra coisa. Acho que é esse aparato nas entrelinhas que deve fazer falta nos gringos quando baterem os olhos no filme. De resto, Tropa de Elite 2 mostra os rumos do Capitão Nascimento (Wagner Moura voltando ao papel de sua vida) treze anos depois do primeiro filme, especialmente depois de uma malfadada operação num presídio, o que acarreta seu afastamento do BOPE e sua ida para a Inteligência Nacional. De tom mais intimista e depressivo que o anterior, Nascimento irá perceber que esta mudança é menos um reconhecimento e mais uma forma de afastá-lo das verdades do que ele chama de “sistema”, felizmente o tiro sai pela culatra e ele começa a desvendar o envolvimento da polícia e dos políticos com as milícias que tomaram os morros cariocas fazendo com que moradores paguem à milícia para serem protegidos da própria milícia. Pois é, o inimigo agora é outro... O roteiro ainda tem espaço para as confusões familiares de Nascimento após o divórcio e a adolescência do seu filho que está sob a guarda da mãe e do padrasto (o bom Irandhir Santos) que é um professor de história militante dos direitos humanos (no início o personagem é visto com irritante desdém, mas depois ganha contornos mais sólidos). Tropa de Elite 2 ainda é violento e não tem medo de resgatar personagens do anterior (nem que seja para descartar no meio do caminho), mas desta vez dá tempo do espectador respirar. Se existem defeitos em sua realização é o papel modesto de Tainá Müller em meio aos marmanjos (como uma repórter investigativa) e a mania de Padilha de deixar a câmera desviando de um lado para o outro para causar mal estar em quem tem labirintite. Este recurso ao invés de dar ritmo acaba enjoando lá pela metade da sessão, Tropa já tem méritos suficientes em seu estilo documental para não precisar desses recursos. Com direção vigorosa e atuações primorosas (destaque para Wagner e o vilão Sandro Rocha), vindo o Oscar ou não o terceiro filme da série deve ser lançado nos próximos anos...
Tropa de Elite 2 (Brasil/2010) de José Padilha com Wagner Moura, Sandro Rocha, Irandhir Santos, André Marques, Maria Ribeiro, André Ramiro, Milhem Cortaz e Tainá Müller. ☻☻☻☻
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