Hopkins e O'Donoghue: mais do mesmo.
O Ritual é um filme de terror que já começa por um tema batido: o exorcismo. Depois a coisa piora com o pôster mostrando Anthony Hopkins fazendo mais uma vez aquele olhar de Hannibal, mas dessa vez o ator inglês não interpreta um canibal elitizado, mas um padre que vive desafiando o coisa ruim. Apesar disso, o filme tem até um ponto de partida original ao mostrar um curso de formação de exorcistas, mas a coisa não é desenvolvida como deveria. O tema em si sempre chama a atenção dos fãs - árduos por um filme de terror que saiba dar sustos e alguma densidade psicológica - o mais engraçado é como o filme começa cheio de ideias até originais que vão sendo abandonadas gradualmente até que tudo se resuma ao mais trivial feijão com arroz - e, ironicamente, o filme cospe no prato em que come: o clássico O Exorcista (1973), para depois ficar cada vez mais parecido com ele. Claro que para tudo que acontece existe a proteção de um enorme clichê (ser inspirado em fatos reais). É interessante quando tenta acompanhar os dilemas do jovem Michael (o estreante Colin O'Donoghue) que desde sempre soube que sua família lhe oferece duas opções de carreira: ser padre ou agente funerário. Ele não se empolga com nenhuma das duas opções, mas (nunca fica muito explicado) escolhe ir para o seminário (e todas as suas famosas restrições), mas pretende desistir de tudo após concluir seus estudos para padre. Depois de alguns acontecimentos que tentam fazê-lo reencontrar a fé ele é escolhido para aprender o ofício de exorcista em Roma. Lá conhece o esquisito padrexorcista Lucas Trevant (Hopkins) e a repórter Angeline (a brasileira Alice Braga, novamente correta e subaproveitada), não precisa ser muito esperto para saber que um simboliza o caminho do celibato e o outro as tentações que encontra pelo caminho. Se o filme se restringisse às indagações de Michael entre o seu ceticismo e a fé o resultado poderia ser mais satisfatório do que os caminhos que o roteiro segue de forma cada vez mais brusca. A ideia bacana de colocar o chifrudo ameaçando uma doce jovem grávida (Marta Gastini, numa atuação impressionante), logo se dilui para caminhos cada vez mais óbvios. Não há surpresas ou sustos quando vemos que o capeta encontra abrigo em quem antes o ameaçava e aí o filme joga tudo que prometia ladeira abaixo. Apesar disso, O Ritual não é um filme ruim, apenas fraquinho por abandonar suas melhores ideias pelo que já foi visto dezenas de vezes, inclusive no filme que faz chacota. Em determinada cena Hopkins diz após um trabalho de exorcismo: "O que esperava? Cabeças girando? Sopa de Ervilha?" parece uma provocação e de fato é, pena que não coloque nada memorável no lugar (pessoas cuspindo pregos?!) como fez o mais corajoso O Exorcismo de Emily Rose (2005). No fim das contas os maiores elogios ficam por conta da coragem de Colin que mesmo não sendo um ator impressionante, aceitou enfrentar Hopkins e o fato de Mikael Hafstöm convencer gente o porte de Rutger Hauer e Maria Grazia Cucinotta para serem figurantes de luxo.
O Ritual (Rite/EUA-2011) de Mikael Hafström com Colin O'Donoghue, Anthony Hopkins, Alice Braga, Ciarán Hinds, Toby Jones e Marta Gastini. ☻☻
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