Sr. & Srª Plame: casamento ameaçado pela era W. Bush.
Doug Liman é um diretor esperto, mas certo dia acordou de manhã e resolveu se tornar um diretor sério. Com a pompa de ter feito sucessos do porte de Sr. & Srª Smith (2005) e A identidade Bourne (2002), além de cultuados filmes independentes como Curtindo a Noite (1996) e Vamos Nessa (1999), demonstrou seu interesse em levar para as telas a história da agente da CIA Valerie Plame. Plame era uma renomada agente secreta da Inteligência Americana que trabalhava nas investigações da existência de armas de destruição em massa no Iraque. Ela e sua equipe investigavam para descobrir a verdade que George W. Bush tanto queria esconder no mundo pós-11 de setembro de 2001: que não havia ameaça nuclear no Iraque. Quanto mais as investigações de Plame apontavam na direção contrária dos interesses do governo, mais as pessoas envolvidas nas missões organizadas por ela se arriscavam no território inimigo. As coisas pioraram mesmo quando em 2003 seu esposo diplomata começou a confrontar os interesses do presidente americano e a identidade de sua esposa foi revelada - colocando em risco a vida da família, dos colaboradores, das missões e, especialmente, o casamento dos Plame. O estopim de tudo foi uma prosaica indicação de Valerie para que seu marido fizesse uma viagem à Niger para estudar as ameaças que o país apresentava. O caso ganhou os programas de televisão, os jornais, tornou-se um escândalo deixando Valerie em um limbo onde suas missões foram abortadas, seus aliados civis assassinados, restando-lhe apenas ofensas na mídia e brigas com o marido. Sem dúvida esta é uma história que merecia ser contada, mas está longe de merecer a abordagem que Liman confere ao filme baseado no livro de memória de Valerie. Embora tenha concorrido à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme padece do diretor querer dar um passo maior que a perna, agregando tantas informações (que se confundem com subtramas) que acaba perdendo ritmo (que é perfeito em sua tensão na primeira meia-hora de filme) tornando-se cada vez mais arrastado. É até interessante a forma como utiliza cenas de notíciários reais para entremear a história, mas demora uma hora contruindo as missões de Valerie para depois expor o drama a que sua família se submete - sem nunca deixar explodir a tensão que emana das relações fragilidades. Chega a dar pena de Naomi Watts que tenta entregar uma atuação digna de prêmios, mas o filme não ajuda, sempre com a marcha emperrada.. Tentaram até usar como desculpa o fato de Valerie ser uma mulher séria e com nervos quase de aço, mas o problema não é a concepção que Watts faz do personagem (que é irretocável), mas da atmosfera que está ao seu redor. Nem Sean Penn, que vive seu esposo, Joe Wilson, ajuda. Penn e Naomi são atores competentes que já demonstraram que dão caldo juntos em outras produções (21 Gramas/2003 e O Assassinato de um Presidente/2004), mas aqui, enquanto Naomi se esforça, Penn consegue ser apenas chato e pedante. Embora Liman deixe algumas cenas em que Naomi pode brilhar no caos de sua personagem, ainda é de uma crueldade sem tamanho tirar-lhe a cena final onde utiliza cenas da própria Valerie Plame falando sobre os acontecimentos em juízo. A impressão é que Liman tenta fazer um filme explosivo mas se perdeu tanto entre os meandros da história real que não soube escolher o que seria melhor para o seu filme - que deve agradar mesmo só os antiamericanistas. O resultado soa pretensioso e frio, uma espécie de Sr. & Srª Smith sem muito o que fazer, mas ainda assim, sorte que a história, por si só, já prende a atenção até o fim. Imagino uma trama dessas nas mãos de Ridley Scott ou Fernando Meirelles - iria, com perdão do trocadilho, bombar!
Jogo de Poder (Fair Game/EUA-2010) de Doug Liman com Naomi Watts, Sean Penn, Noah Emmerich, Ty Burrell e Sam Shepard. ☻☻
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