Hawkes e Hunt: plena sintonia em uma história real.
A certa altura uma personagem precisa descrever o protagonista e ela diz: "ele só mexe a cabeça". Talvez por dar conta de um personagem desses com tanta competência, As Sessões era alardeado como uma das grandes apostas para o Oscar conforme era apresentado em festivais de cinema independente. Infelizmente, acabou conquistando somente uma indicação ao Oscar de
atriz coadjuvante para Helen Hunt. O filme é baseado na biografia de Mark O'Brien (John Hawks que ganhou o Independent Spirit de melhor ator), um personagem real que
adoeceu de poliomielite ainda adolescente. O filme apresenta brevemente como ele tornou-se famoso por estudar na
faculdade de Berkeley, formando-se em jornalismo - mas gostava mesmo era de escrever poesias.
Aos 38 anos, Mark já vivia confinado à necessidade de viver preso a um pulmão de aço - que abastecia seu corpo para viver algumas horas
fora dali. Com todas as adversidades, Mark era bem humorado e tentava levar uma
vida comum dentro de suas limitações, mas seu olhar sobre a vida
muda quando é convidado a escrever uma matéria sobre a relação entre os
deficientes físicos e o sexo. A partir dali, seu objetivo passa a ser perder a
virgindade. Em sua jornada pelo que parecia impossível, ele conta com
os conselhos de um padre mais que compreensivo (o sempre confiável William H.
Macy), ajudantes devotados (Moon Bloodgood e M. Earl Brown) e os serviços de uma substituta, papel de Helen Hunt. A tal substituta é
uma espécie de (fisio?)terapeuta sexual que auxiliará Mark a conhecer as sensações de seu
corpo, a intenção é que Mark possa controlar o corpo ao ponto de poder manter relações sexuais. Trata-se de um tema espinhoso, mas que o diretor Ben Lewin consegue abordar de
forma leve, bem humorada e respeitosa aos personagens. É interessante como o
roteiro torna seus sujeitos surpreendentes à medida que os revela ao público.
Fazia tempo que Helen Hunt não recebia um papel tão
belo e desafiador em sua carreira, ela eleva os conflitos de sua personagem a
outro patamar ao exibir o esforço em se distanciar emocionalmente de Mark. Com um Oscar de melhor atriz na estante (por Melhor
É Impossível/1997) e vários Globos de Ouro (a maioria por conta da série Mad About
You/1992-1999) ainda me pergunto se a atriz não merecia outro careca dourado com essa indicação ao
prêmio de coadjuvante no Oscar! William H. Macy também deixa seu padre entre a
solidariedade e a curiosidade perante a sexualidade - da qual também está
privado, mas por motivos totalmente diferentes. Mas dificilmente o filme teria sua força se não investisse no talento do ainda pouco conhecido John Hawkes na pele de Mark. Revelado como o tio esquisito de Jennifer
Lawrence em Inverno da Alma/2010 (filme que lhe valeu uma indicação ao Oscar de
coadjuvante), desde então o ator não para de trabalhar, mas é neste filme que o ator comove a plateia na pele de um personagem que exige total expressão com um corpo quase totalmente inerte. Cada olhar e palavra do personagem é defendido pelo ator em sua plenitude, de forma que é fácil entender como pode ser ameaçador aos homens que deixam as mulheres por perto dele. Hawkes entrega uma das atuações
mais impressionantes do ano. Além de todo o mérito do elenco, não lembro de ter visto um filme onde o sexo é tratado de forma
tão naturalmente terna.
As Sessões (The Sessions/EUA-2012) de Ben Lewin com John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy e Moon Bloodgood. ☻☻☻☻
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