Thiago: semelhança física com Renato Russo sem amparo do roteiro.
Sem dúvida um dos filmes
brasileiros mais falados do ano foi essa cinebiografia de Renato Russo, o
cultuado vocalista da Legião Urbana. Contando com os fãs fiéis do cantor e da
banda que fazem a banda brasiliense ser uma das mais bem sucedidas de nossa
música, o filme foi produzido para ser um sucesso nos cinemas - e realmente foi com quase dois milhões de espectadores. Contando a fase embrionária do rock de Brasília, o filme conta (obviamente) com ótima
trilha sonora e personagens que ajudaram a dar cara para o rock tupiniquim.
Particularmente, eu esperava mais de um filme que conta com uma matéria prima dessas, especialmente
por que não consigo acreditar que o verdadeiro Renato Russo seja essa figura
ingênua que a produção imprimiu à atuação de Thiago Mendonça. O rapaz pode até
ter suas semelhanças físicas com Renato, mas não consigo enxergar nele a
essência do compositor de músicas antológicas como Que País é Esse?, Índios e
Tempo Perdido. O Renato do filme aparece mais como um garoto de pretensões
intelectuais, fã de punk rock e que é capaz de citar Sócrates após apresentar
uma música aos amigos. Aos fãs da Legião, cabe ainda a empreitada de
“identificar” as citações às composições de Russo espalhadas pelos diálogos. Ou
seja, beira a chatice! O contexto histórico da banda é apenas pincelado (li em algum lugar que o filme aborda o período de 1973 à 1985 e não acreditei), assim como a classe social dos personagens que transitavam em torno do protagonista e lhe permitia o
contato com bandas que faziam sucesso no exterior e estavam distantes de
conseguir distribuidores no Brasil daquela época. Vale lembrar que hoje temos
acesso a qualquer banda que toque nos cafundós da Finlândia através da
internet, mas há mais de três décadas atrás dependíamos da camaradagem de amigos
descolados para conhecer os artistas que furavam o cerco do jabá das rádios e
emissoras de TV. Esse rico contexto histórico fica meio que de lado no filme,
cabendo a graça às transgressoras invasões ao som das festas alheias para
propagar a sonoridade punk. Essa parecia ser a única diversão dos jovens
brasilienses que não tinham muito o que fazer para se divertir até o momento em
que nasce o Aborto Elétrico - capitaneado por Renato - e que se tornou a banda
punk pioneira de Brasília. O roteiro até que explora os conflitos presentes na
banda, especialmente depois que começa a existir uma certa disputa com bandas
conterrâneas (como a Plebe Rude) e Fê Lemos (vivido por Bruno Torres) e Russo começam a se desentender. O nascimento do Capital
Inicial com os restos do AE, a presença de um Dinho Ouro Preto adolescente,
assim como Herbert Viana juvenil (e de voz imitada e inconfundível) ajudam a
perceber como era próxima a relação entre alguns dos maiores nomes do rock
nacional. No entanto, o veterano diretor Antonio Carlos da Fontoura (famoso pelo polêmico Rainha Diaba de 1974 e por ter feitos fimes menores posteriormente)
deixa tudo à beira do insosso, com relações juvenis triviais e a timidez de explorar
os aspectos mais polêmicos da personalidade do seu protagonista. Fatores como a rebeldia, o uso de drogas e o
homossexualismo do personagem aparecem apenas superficialmente, como se esses aspectos
não fossem importantes para a constituição do personagem como o
conhecemos. Não se trata de cultuar
esses aspectos da vida dele, mas demonstrar como um bocado de genialidade, dor
e tristeza colaboraram para a constituição de um dos maiores porta-vozes da
juventude de nosso país. Tentando fazer um Renato Russo que agrade a todo
mundo, o filme perdeu uma ótima oportunidade de mostrar a personalidade que
estava por trás de algumas das melhores composições do rock nacional. Somos tão
Jovens me parece um desses filmes censurados na época da ditadura onde as
cenas mais importantes ficaram de fora, assim, perdeu a chance de ser tão relevante quanto à obra de seu biografado.
Somos Tão Jovens (Brasil/2013) de Antonio Carlos da Fontoura com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Bianca Comparato, Marcos Breda e Sandra Carveloni. ☻☻
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