Butch, Davis e Angel: presídio para menores.
Kim Chapiron em sua estreia como diretor (no elogiado Satã/2006 estrelado por Vincent Cassel) já demonstrava seu apreço por não fazer filmes leves, que servissem somente como passatempo aos espectadores. Seu gosto por temas pesados e narrativa crua conquistou fãs fiéis que garantiram alguma repercussão para esse seu segundo longa, O Canil. Filmado no Canadá, o filme cria um retrato bastante real sobre as instituições destinadas aos menores infratores, o problema é que, enquanto filme, parece uma espécie de reciclagem dos filmes carcerários. A presença de guardas e personagens barra pesada sempre à espreita torna a vida dos protagonistas numa temporada no inferno, semelhante a de qualquer filme de presídio. Mas a grande vantagem desse trabalho de Chapiron é contar com uma atuação surpreendente do jovem Adam Butcher, que é ator desde menino e aqui tem uma presença bastante marcante como o descontrolado Butch. O Canil acompanhada a temporada de três personagens num centro de correção para menores de 18 anos. Davis (Shane Kippel) era tão mulherengo quanto traficante antes de ir parar na instituição, Angel (Mateo Morales) aplicava golpes para roubar carros na noite e Butch (Adam Butcher) foi mandado para lá por ter agredido um guarda na instituição anterior em que vivia (numa cena bastante violenta). Não precisa mais de uma cena para que o espectador conheça a personalidade dos três, Davis adora contar vantagens sobre suas conquistas amorosas e se não fosse o envolvimento com as drogas seria um adolescente como qualquer outro. Angel é sempre calado, quase um objeto dos acontecimentos ao seu redor (é também o personagem menos trabalhado do filme) e Butch é o que parece não ter uma história fora de instituições. Durante o filme não aparece um parente de Butch, existem apenas menções ao seu passado em reformatórios e uma breve fase onde ele comenta que seu pai trabalhava em circo. O personagem deixa claro que encara aquela instituição como um novo começo, até que começa a ser provocado por alguns jovens e torna-se uma bomba preste a explodir. Ele só precisa de tempo para observar as brechas do sistema de segurança do local para que possa cuidar dos desafetos. O Canil (nome atribuído ao local pelo professor de educação física em uma cena bastante simbólica) mostra claramente como lidam dois poderes num mesmo espaço: os guardas que acreditam que a opressão disciplina é o melhor caminho para lidar com aqueles adolescentes e os próprios adolescentes que busca seus caminhos pessoais para lidar com um sistema que já está falho em sua concepção. Afinal, como um ambiente que transpira tensão pode recuperar alguém? A violência aparece como sinal de que algo não está funcionando, mas é mais fácil apontar um culpado e deixar o mesmo sistema operar até que outro caso de violência apareça e seja punido outro culpado. Existe bastante violência no filme, assim como bastantes clichês e, as poucas cenas de alegria dos jovens, são sempre tolhidas, tratadas como subversão. Chapiron demonstra bastante domínio na narrativa (especialmente na explosão que apresenta no final), mas o roteiro merecia ser um pouco mais lapidado, explorando mais personagens - especialmente o supervisor Goodyear (o fraquíssimo Lawrence Bayne) que poderia fazer a diferença em várias cenas. No fim das contas o que importa é que Adam Butcher está excepcional no descontrole crescente de seu personagem, num misto perfeito (e raro) de agressividade e vulnerabilidade, além disso o longa deixa para o público a pergunta se instituições como a do filme são realmente funcionais (talvez: só para quem deseja que esses jovens fiquem isolados do resto da sociedade).
O Canil (Dog Pound/França-Canadá-Reino Unido) de Kim Chapiron com Adam Butcher, Shane Kippel, Mateo Morales, Lawrence Bayne, Slim Twig e Dewshane Williams. ☻☻☻
bacana :D
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