Lila e Payman: atuações precisas em ótimo roteiro.
Ganhador de mais de cinquenta prêmios internacionais, o iraniano A Separação é aquele tipo de unanimidade que me sugere desconfiança. Se você é desconfiado, como eu, só tornará a experiência de assistí-lo ainda melhor, uma vez que, nenhum dos elogios que ouvi sobre o longa de Asghar Farhadi dão conta da experiência cinematográfica sublime que é assistí-lo. Sem efeitos especiais, erotismo, reviravoltas malucas ou assassinatos, o filme se ampara principalmente no roteiro escrito pelo diretor. A força dos diálogos foi reconhecida em vários países que tornaram o filme num sucesso mundial, tanto que foi eleito o melhor filme estrangeiro pelo Globo de Ouro e no Oscar em 2012 - além de ter seu texto indicado ao prêmio de melhor roteiro original. O ponto de partida é bem simples e é mostrado na primeira cena a partir do que o título sugere: Simin (Leila Hatami) quer o divórcio porque o esposo, Nader (Payman Maadi), não quer acompanhá-la para viver no exterior. Depois de lutar por muito tempo por um visto, o marido não demonstra vontade de morar em outro país para garantir uma vida melhor para a filha de onze anos. Um dos argumentos de Nader é que precisa tomar conta do pai que sofre de Alzheimer, mas Simin só poderá partir sem ele se conseguir o divórcio. No entanto, com o divórcio, a guarda da filha fica com ele - e ele não permitirá a saída dela. Parece um beco sem saída, mas não deixa de ser interessante que diante do que o roteiro reserva, o dilema perante o visto se torna uma coisa menor. Quando Simin volta a morar com a mãe, ela indica Razieh (Sareh Bayat) para ajudar a tomar conta do sogro, mas Razieh tem alguns problemas para conseguir executar o serviço. Além das restrições religiosas que atrapalham o trabalho, uma série de acontecimentos irá comprometer sua estadia no trabalho, ao ponto de virar caso de investigação policial. Farhadi constrói seu drama em formato de suspense, com revelações e diálogos que só aumentam a tensão conforme o filme aprofunda a relação dos personagens. Essas relações evidenciam uma série de diferenças que perpassam as relações no Irã, a relação entre as classes sociais, entre os muçulmanos mais ortodoxos e os menos ortodoxos, entre homens e mulheres, entre pais e filhos, maridos e esposas numa rede de situações que deixam o divórcio apenas como uma das separações presentes no filme. Apesar de todas as acusações que recaem sobre Nader, desde a primeira cena Simin argumenta que ele é um homem bom e nós vemos isso nas várias camadas sugeridas pelo roteiro, apesar de um terrível momento de estresse ter cruzado seu caminho. A sucessão de fatos nos fazem apenas reexaminar as consequências de uma decisão que poderia ser considerada banal. Sem o maniqueísmo da maioria das produções, A Separação não tem mocinhos e vilões, mas pessoas comuns que tentam diminuir a distância do eu com o outro - e o final engasgado no silêncio dos ótimos Leila Hatami e Payman Maadi evidencia isso de forma plena. Com cenas memoráveis e fortes dilemas morais, o filme envolve o espectador em cada minuto de sua duração - e continua seu desenrolar em nossas cabeças por muito tempo. Ganhador do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2011 (além dos prêmios de ator e atriz divididos por todo o elenco), o filme é simplesmente, uma obra-prima.
A Separação (Jodaeiye Nader az Simin/Irã-2011) de Asghar Farhadi com Payman Maadi, Leila Hatami e Sareh Bayat. ☻☻☻☻☻
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