quinta-feira, 15 de agosto de 2013

KLÁSSIQO: A Garota do Adeus

Dreyfuss e Marsha: acertando os ponteiros de uma convivência forçada. 

O novaiorquino Richard Dreyfuss foi um dos atores mais carismáticos surgidos na década de 1970. Hoje ele pode ter se tornado um coadjuvante de luxo em todo tipo de filme que você possa imaginar, mas houve uma época em que seu carisma lhe valia indicações a vários prêmios, a maioria foi por conta de A Garota do Adeus (1977) que lhe valeu os prêmios de melhor ator no Globo de Ouro (na categoria ator de comédia/musical),  no BAFTA e até no Oscar. A comédia escrita pelo premiado Neil Simon contou com uma ajudinha de Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977) de Steven Spielberg, que foi lançado no mesmo ano - e que oferecia à Dreyfuss outra atuação marcante e totalmente diferente da que vemos aqui. O filme caiu no gosto do público e da crítica, de forma que a Academia de Hollywood lhe garantiu cinco indicações ao Oscar: filme, roteiro original, atriz coadjuvante (para a menina Quinn Cummings e para Marsha Mason) e ator (Dreyfuss). Trata-se de uma comédia bastante simpática sobre um ator que vai tentar a fama em Nova York e acaba conhecendo uma dançarina veterana que acaba de ser abandonada pelo namorado. Ela se chama Paula  McFadden (Marsha Mason, que me fez pensar em como Emma Stone será no futuro), tem uma filha de dez anos (Quinn Cummings, um achado) e não fica nada satisfeita quando descobre que o namorado ator sublocou o apartamento onde vive para o desconhecido Elliot Garfield (Dreyfuss). É verdade que a direção de Herbert Ross quase derrapa no exagero logo no início (o que era de se esperar quando lembramos que ele havia assinado o sucesso Funny Lady/1975 com Barbra Streisand e posteriormente fez o dramalhão Flores de Aço/1989 que revelou Julia Roberts), afinal, existe um trato quase teatral na forma como somos apresentados à Paula e sua filha, além da música ser melosa demais... sorte que quando Dreyfuss entra em cena o filme muda o tom. Ao invés do exagero, o filme incorpora o ritmo do personagem - e  desde a primeira cena percebemos como Elliot Gartfield é articuladamente elétrico! Ele dispara palavras e argumentos numa velocidade impressionante e seus gestos acompanham cada palavra. Esse domínio do personagem é realmente notável no trabalho que Richard Dreyfuss apresenta aqui. Além disso, suas parceiras de cena o acompanham à altura. Além das inúmeras discussões de Paula com Garfield, o roteiro dispara piadas espertas sobre o mundo artístico - especialmente o da Big Apple. Basta dizer que Garfield foi para NY feliz da vida por ganhar o papel numa adaptação do shakesperiano Ricardo III, mas o que deveria ser a consagração se torna um pesadelo, já que ele entra em crise quando o diretor afirma querer explorar o lado "gay" do personagem. As cenas de ensaio só não conseguem ser mais engraçadas do que o horrendo resultado que vemos na estreia (e se ele evitava parecer a Bette Midler, não sei se ele alcançou o que queria)! Enquanto isso, Paula tenta retomar sua carreira de dançarina, mas seu corpo não parece estar com muita vontade de ajudar ("é incrível como ficamos flácidas quando estamos felizes", dispara a certa altura). Os diálogos do filme provocam risadas até hoje e a plateia nem deve se incomodar com a virada forçada do roteiro que faz com que Elliot e Paula se apaixonem. Por um lado, não é difícil se apaixonar por Elliot Garfield, que apesar de suas esquisitices de ator conceitual, ser baixinho e ter o cabelo sempre desgrenhado consegue ser gentil mesmo quando Paula beira o insuportável - quando ela arranjaria outro parceiro assim? Não sei se foi impressão minha, mas sempre pensei que o título fazia referência à filha da personagem, mas na verdade, Paula é a garota do título - o que fica evidente em uma cena rápida onde ela diz querer dar adeus ao seu inquilino. Para a menina Lucy coube um punhado de piadinhas precoces, como aquela em que diz que Elliot tem mais classe do que o ex-namorado da mãe ou o momento em que diz para a mãe não se preocupar com ela. Divertido e mais irônico do que parece, A Garota do Adeus é um filme que merece ser redescoberto.

A Garota do Adeus (The Goodbye Girl/EUA-1977) de Herbert Ross com Richard Dreyfuss, Marsha Mason, Quinn Cummings e Paul Benedict. ☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário