Hoult, Toni e Hugh: um subestimado grande filme.
Por muito tempo, o inglês Hugh Grant conquistou fãs com aquele tipo inglês tímido que não foi abalado nem quando aconteceu aquele escândalo com a Divine Brown (e se você não lembra é porque não deve ter sido tão relevante assim). A confusão aconteceu no ano de 1995, mas ele só conseguiu se reinventar somente no século XXI. Com o adorável cafajeste Daviel Cleaver em O Diário de Bridget Jones (2001), ele provou que era capaz de encarnar outros tipos de personagens, mas foi com o solteirão endinheirado Will Freeman de Um grande Garoto (2002) que o ator alcançou as melhores notas de sua carreira. É verdade que muito do apelo do filme se deve à habilidade de Nick Hornby em construir tramas aparentemente simples sobre a forma como o homem contemporâneo enxerga suas relações com o mundo e a cultura pop. Apesar dos fãs do livro terem reclamado que o roteiro (indicado ao Oscar) de Peter Hedges, Chris e Paul Weitz ter retirado muito dos comentários musicais de Hornby em seu roteiro, acredito que o resto da humanidade não vai se importar com a trajetória de amadurecimento tardia de Will. Will vive às custas dos direitos autorais de uma canção natalina que seu pai compôs há décadas. Ainda que ela lhe renda uma vida de pura vaidade (roupas de grife, jantares caros, cuidados com a beleza e inúmeras conquistas amorosas - descartadas quando começam a ficar mais sérias), a canção lhe dá nos nervos sempre que começa a ouvi-la. O filme é narrado por Will, embora suas considerações sejam geralmente diferentes do que vemos na tela, especialmente depois que ele conhece o pré-adolescente Markus Brewer (um rechonchudo Nicholas Hoult, então com 13 aninhos). Markus, com todo otimistmo perante os acidentes que a vida lhe oferece (como a mãe riponga com tendência suicidas vivida pela sempre exemplar Toni Collette), pode até ser um o que o tipo sugere, mas Will é o verdadeiro garoto do filme - e tem algumas coisas a aprender. Will conhece Markus depois que chega a conclusão de que as mulheres com filhos são as melhores a serem conquistadas (segundo ele são experientes, carentes e ainda preocupadas com os filhos ao ponto de sacrificar os relacionamentos em nome de seus rebentos). Will começa um jogo de mentiras com as mulheres de um grupo de apoio, quase que por acaso conhece Markus em um dos pic-nics mais frustrantes da história do cinema e... um drama no caminho irá uní-los numa amizade bastante sincera. Entre um conflito aqui e outro ali, Um Grande Garoto se beneficia de uma química irresistível entre seu elenco - devidamente capitaneado pela atuação inspiradíssima de Grant. Graças a Grant que Will, apesar de suas posturas questionáveis - e considerar-se uma ilha (desde o início ele se considera Ibiza!) - ele consegue ser a encarnação de um pai garotão sem filhos. Ele tem dinheiro suficiente para presentear Markus com coisas que sua mãe nunca cogitou, mas não consegue ver as relações com a profundidade que merecem até conhecer a divorciada Rachel (Rachel Weisz). É interessante como os irmãos Chris e Paul Weitz conseguem desbravar as camadas artificiais de Will e mostrar que debaixo do vazio que ele transparece à primeira vista, existe um bom sujeito cheio de boas intenções. Não é todo dia que vemos uma comédia com tanto a dizer aos seus espectadores. Até o final, onde Grant assassina um clássico de Roberta Flack, o filme consegue empolgar mais do que todos os filmes de Adam Sandler juntos. Com trilha sonora de Badly Drawn Boy e seu irresistível humor inglês, algo me diz que este filme já pode ser considerado um clássico. Além disso, para as garotas que suspiram pelo Nicholas Hoult, vale tirar a prova se o talento do rapaz permanece intacto.
Um Grande Garoto (About a Boy/EUA-Reino Unido - França) de Chris e Paul Weitz com Hugh Grant, Nicholas Hoult, Toni Collette e Rachel Weisz. ☻☻☻☻☻
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