Wilson e Charlize: prisioneira amarga da nostalgia.
Acho que o maior problema de Jovens Adultos foi a expectativa causada pelo reencontro da dupla responsável pelo sucesso Juno (2007). Jason Reitman conseguiu um lugar frente aos indicados ao Oscar de melhor filme com a história da adolescente grávida mais descolada de todos os tempos e depois conseguiu cravar indicações ao prêmio de filme e direção com o superestimado Amor sem Escalas/2009. A vida de Diablo Cody não foi tão fácil, depois de levar para casa o prêmio de roteiro original por Juno, ela se dedicou ao seriado United States of Tara (que durou duas temporadas: 2009/2010) e deu o azar de escrever o insosso veículo para Megan Fox, Garota Infernal/2009. Jovens Adultos era uma oportunidade mais para ela do que para Reitman provar que não se tratava de sorte de iniciante quando recebeu o prêmio da Academia. Com Charlize Theron no alto dos créditos o filme tinha o aval necessário para conseguir atenção da mídia e do público com o alardeado humor negro presente no trailer. Não foram poucos o que se decepcionaram com o filme, mas devo dizer que diante da premissa do roteiro, ele cumpre exatamente a sua função. Existe uma limitação em história de pessoas que voltam para sua cidade natal e entram em conflito com os fantasmas de seu passado, a solução para essa amarra é extrapolar (como John Cusack fez em Matador em Conflito/1997), mas essa não é a proposta de Cody/Reitman. Apesar da personagem Mavis Gary (Theron) resolver deixar Mineapolis rumando para a pequena Mercury para reconquistar seu namorado de adolescência (Patrick Wilson) - que acaba de ser pai. Pelo próprio apartamento e aparência de Mavis percebemos que sua vida não está lá grandes coisas. Sua cara é de constante ressaca, só assiste reality shows na TV e o tom cinzento do apê só ressalta que faz tempo que alguma coisa está fora do eixo. Quando descobrimos que Mavis é uma escritora que está com sua série de livros (para jovens adultos, um equivalente aos leitores das obras de Talita Rebouças) prestes a ser cancelada, entendemos um pouco o que está havendo. É evidente que Mavis é a vilã da história, mas quando a câmera opta por acompanhá-la assume a difícil missão de humanizá-la, mesmo que seja uma monstra, podemos conhecer suas motivações e encontrar momentos em que sua armadura dá sinais de cansaço. O mais interessante é que a atuação de Charlize Theron (indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia) sempre deixa lacunas para colocar em dúvida se ela realmente não tem consciência de seu plano destinado ao fracasso. Embora sempre ressalte seu desprezo pelos caipiras de Mercury, ironicamente, ela quer resgatar um período de sua vida onde as coisas pareciam fazer mais sentido. Sendo assim, todas as conversas com seu ex-namorado Buddy Slade (Patrick Wilson, competente como sempre) ganham um sentido que não é o dito por ele, mas o atribuído por ela e, essa visão distorcida da realidade, basta para que ela se arrume para encontrá-lo como se preparasse para uma batalha (e o fato dele dizer que ela continua a mesma parece menos um elogio do que ela pensa). Mavis não percebe que todos em Mercury mudaram, seguindo em frente com suas vidas, diferente dela que parece estagnada em um momento muito específico onde suas impressões são registradas como enredo se seus livros (numa espécie de diário) ou torna-se motivo para encher a cara. Embora as atitudes de Mavis sejam questionáveis (e muitos de seus diálogos sigam pelo mesmo caminho), o resultado é um filme leve calcado na nostalgia de uma personagem amargurada. Nessa jornada um fator interessante é que seu cúmplice seja o seu desprezado vizinho de armário na época da escola: Matt Freehauf (Patton Oswalt). Matt surge como a consciência que Mavis prefere deixar sempre dopada, se ela não enxerga seus próprios problemas, Matt sofre com a marca das agressões da época da escola onde um grupo de atletas resolveram espancá-lo por considerá-lo gay. É Matt que mostra como Diablo Cody assumiu um grande risco em construir uma história que se afasta cada vez mais do humor para se aproximar do drama ambientado numa espécie de máquina do tempo (onde as pessoas escutam fitas K7, curtem Teenage Fanclub e usam camisa dos Pixies) - pena que Mavis é a única presa na máquina.
Jovens Adultos (Young Adults/EUA-2011) de Jason Reitman com Charlize Theron, Patrick Wilson, Patton Oswalt, Elizabeth Reaser, Collette Wolfe e Kate Nowlin. ☻☻☻
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