Vore e Tina: descobrindo as origens incomuns.
Sabe aquele tipo de filme que ao assistir você sente que nunca viu algo parecido - e quando termina você não consegue falar muito sobre ele? Foi isso que senti com relação a Border, filme sueco dirigido por um iraniano e que conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor maquiagem no ano passado. O filme poderia ter recebido outras indicações ao prêmio mais famoso do cinema, mas acredito que muitos ficaram sem reação diante do que assistiram. A fama do filme já começou quando foi exibido na mostra paralela Un Certain Regard no Festival de Cannes, de onde saiu premiado pela forma madura como mistura gêneros e explora climas com uma segurança absurda para um roteiro que a maioria dos realizadores deixaria cair no ridículo. Nas mãos de Ali Abbasi ele transforma uma história assustadora com elementos fantásticos num misto de romance, filme policial e fantasia. O filme começa nos apresentando a policial Tina (Eva Melander), mulher de características físicas bastante peculiares creditadas à particularidade de seus cromossomos. No entanto, a aparência não é o que há de mais fantástico na personagem, já que com um olfato super desenvolvido, ela é capaz de reconhecer os cheiros das emoções das pessoas, o que ajuda muito em seu trabalho no aeroporto. Ela é capaz de perceber quando a pessoa está com medo, com angústia ou culpa por algo que estão fazendo de errado. Por conta disso, acaba se deparando com uma organização criminosa que terá desdobramentos no decorrer da trama. Um certo dia, ela se depara com um homem muito parecido com ela. Vore (Eero Milonoff) parece sua versão masculina, mas logo ela irá perceber que ele não é exatamente o que parece e, diante da identificação imediata que acontece entre os dois, Tina começará a pensar um pouco mais sobre seus gostos, origens e até identidade de gênero. Nasce daquele encontro um romance incomum sobre dois personagens que se descobrem mais do que almas gêmeas, mas realmente semelhantes. A forma como roteiro, os atores e o diretor constroem esta descoberta é bastante envolvente e se desenvolve de forma desconcertante ao longo da história, com segredos e acontecimentos que deixam a plateia tão perplexa quanto a protagonista. A forma como a história insere elementos de mitologia nórdica na história é impressionante e convincente na construção de um filme único, que promove o encontro entre o que há de mais asqueroso no mundo real com outro até então restrito à fantasia. Com muitas paisagens naturais e uma variedade de temas bastante rica, o filme é ainda mais valorizado pelos trabalhos excepcionais de Eva Melander e Eero Milonoff que sustentam uma história que flerta a todo instante com o absurdo sem cair no ridículo. Lançado em DVD por aqui no finalzinho de 2019, Border é um dos filmes mais originais que assisti neste ano e merece ser descoberto.
Border (Gräns / Suécia - 2019) de Ali Abbasi com Eva Melander, Eero Milonoff, Jörgen Thorsson, Ann Petrén e Andreas Kundler. ☻☻☻☻☻
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