Nicolas e Brendan: o horror que veio do céu.
Howard Phillips Lovecraft, mais conhecido como H.P. Lovecraft (1890-1937) está em alta no mundo do entretenimento. O escritor americano ficou famoso por injetar elementos de ficção científica e fantasias em histórias de terror que se tornaram cultuadas ao longo do tempo. Faz tempo que Guillermo Del Toro tenta levar para as telonas o cultuado Nas Montanhas da Loucura e a HBO faz uma campanha de marketing agressiva para a divulgação da série Lovecraft Country (com previsão de estreia no próximo dia 16) que busca referências no universo do escritor (especialmente no racismo percebido nas entrelinhas) com produção de JJ Abrams e Jordan Peele. Pouco antes da pandemia, em fevereiro deste ano, chegou aos cinemas americanos A Cor que Caiu do Espaço estrelado por Nicolas Cage. O mais engraçado é que o filme foi vendido com a frase "dos mesmos produtores de Mandy/2018" e enxerguei alguns paralelos entre estes dois filmes, para além da presença de Nicolas que começa como um homem pacato e pira no decorrer da história (acho que Cage gosta da coisa). Aqui ele vive com a família numa casa afastada da cidade, no meio do mato, ele vive com a esposa Theresa (Joely Richardson) que ainda tenta se recuperar de sua batalha contra um câncer. Junto deles está a filha aborrescente Lavinia (Madeleine Arthur), o filho Benny (Brendan Meyer), o caçula Jack (Jullian Hilliard) e uma criação de alpacas (uma espécie de lhama pequena comum na região dos Andes). Se tudo é aparentemente tranquilo por lá, desde o início sabemos que Lavinia detesta aquela tranquilidade. Ela nem imagina que toda aquela calmaria irá desmoronar quando uma estranha luz rosa neon anunciar a chegada de um meteorito no quintal. Aquele artefato espacial chama atenção de todos, mas, estranhamente nenhuma medida é tomada. Não há estudos sobre radiação ou contaminação, apenas um comentário de um jovem cientista que aparece por lá que ressalta para tomar cuidado com a água do local. Quando as esquisitices começam a acontecer, fica mais interessante quando não sabemos se estão todos alucinando ou se aquilo é real de verdade. O fato de Lavinia ser fã de bruxaria também poderia contribuir para dar contornos interessantes para a história, mas a personagem é tão insuportável que, sempre armada de comentários desagradáveis sobre tudo ao seu redor, fica difícil gostar da personagem que tem grande destaque na trama. Ela é apenas um dos problemas que afetam o envolvimento do espectador com a história, que aos poucos se torna uma mistura de cenas tão assustadoras quanto grotescas em torno daquela família banhada em luz rosa (e este trabalho da fotografia é o mais interessante do filme e lembra muito o visto em Mandy). O cineasta Richard Stanley já provou outras vezes que adora uma narrativa caótica. Prova disso foi sua demissão no meio do remake de A Ilha do Doutor Moureau (1996) estrelado por Marlon Brando e Val Kilmer e que resultou numa bagunça cinematográfica. Aqui ele faz uma zona mesmo, mas é de propósito. O filme fica controlado até que tudo se distorce (som, imagem, identidades, personagens...) num caos completo. Não considerei o filme envolvente, mas os fãs do gênero devem curtir esta viagem de cores psicodélicas (e numa telona deve ser realmente incrível!) sobre a desconstrução de uma família (e do mundo). Sim, Nicolas Cage surta mais uma vez (e confesso que estou cansado disso), mas o diretor não fica atrás.
A Cor que Caiu do Espaço (Color out of Space / EUA-Malásia-Portugal / 2020) de Richard Stanley com Nicolas Cage, Joely Richardson, Madeleine Arthur, Brendan Meyer, Jullian Hilliard, Elliot Knighte e Josh C. Aller. ☻☻
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