sexta-feira, 14 de agosto de 2020

NªTV: Perry Mason

Rylance e Rhys: as origens de um clássico dos tribunais. 

Ah, o tempo! Hoje o tempo voa, amor! Escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir... faço das palavras de Lulu Santos as minhas desculpas de quando me dei conta que o último capítulo de Perry Mason da HBO foi ao ar no domingo e somente hoje tive tempo para sentar e escrever sobre ela. Estes tempos de Home Office em pandemia dão a impressão que estou no trabalho em tempo integral... enfim, vale ressaltar que o programa foi concebido como minissérie e, se agradasse, teria aval para se tornar uma série. Satisfeita com o resultado, a HBO já anunciou que novos casos e investigações do clássico personagem virão por aí. Muita gente reclamou que o personagem que vemos aqui é interessante, mas que nem de longe lembra o personagem concebido por Erle Stanley Gardner em 1933 (que rendeu uns oitenta livros em que precisava lidar com casos variados). O personagem se tornou tão popular que ganhou uma popular série de televisão que durou de 1957 até 1966.  No entanto, o passado do personagem (e quem mais estivesse ao seu redor) nunca recebeu muito destaque e a ideia desta nova série é explorar a origem destes personagens. Paul Drake (Chris Chalk) agora é um policial afro-americano casado que lida com o preconceito dentro e fora do trabalho, a parceira Della Street (a ótima Juliet Rylance) é apresentada como uma secretária com grandes aspirações que trabalha com um advogado veterano (John Lithgow). Para este advogado que Perry Mason (vivido com o comprometimento habitual de Matthew Rhys, celebrado  por seu trabalho em The Americans) começa a trabalhar como detetive. Perry ainda não é bem sucedido ou reconhecido e mora fora de Los Angeles, na fazenda decadente que herdou dos pais. Com ousadias e métodos pouco ortodoxos, Rhys se envolve na investigação do arrepiante sequestro e assassinato de um bebê que foi encontrado com os olhos abertos costurados. Esta imagem fantasmagórica paira sobre toda a trama, que aos poucos revela segredos dos pais e aspectos assustadores do submundo de Los Angeles, com espaço para um culto que gira em torno de uma líder que diz ser capaz até de ressuscitar os mortos, esta vivida pela grande Tatiana Maslany (inventando um tipo bem diferente das trocentas personagens que interpretou em Orphan Black). Na investigação se mistura interesses políticos, religiosos e discursos bastante conservadores que se voltam contra a mãe do bebê, Emily Dodson (Gayle Rankin), que torna-se suspeita daquela atrocidade. Embora em alguns momentos o programa dê voltas demais em torno das mesmas pistas, ele ainda consegue ser envolvente ao aprofundar os personagens e manter a tensão até o final, enquanto vemos Perry ganhar corpo e segurança para se tornar o renomado advogado em seu futuro. Se Matthew Rhys empresta toda credibilidade a um personagem que ainda não é levado a sério no tribunal, ele está muito bem acompanhado pelo elenco feminino que o cerca com trabalhos interessantíssimos. Juliet, Tatiana e Emily tem momentos brilhantes durante o programa, não satisfeitos, os produtores ainda deram destaque para a sumida  Lili Taylor como a mãe zelosa da histriônica líder religiosa. Perry Mason tem reconstituição de época impecável, bom trabalho de direção e um tom sombrio que transcende os figurinos e a fotografia. Terminado de forma redondinha, a segunda temporada pode ser aguardada sem estresse.

Gayle, Tatiana e Lili: ótimas atuações. 

Perry Mason (EUA-2020) de Ron Fitzgerald e Rolin Jones com Matthew Rhys, Tatiana Maslany, Lili Taylor, Juliet Rylance, John Lithgow, Gayle Rankin e Robert Patrick. 

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