Camp e Mark: o filme quadradão de Todd Haynes.
O tema do nosso #FDS é o cineasta Todd Haynes, que antes de se tornar representante do cinema indie americanos dos anos 1990, imaginava que seria no máximo um produtor de cinema. O que ele considerava certo era ser professor de cinema e, de vez em quando, fazer alguns filmes experimentais. Seus primeiros filmes impressionaram muita gente (Veneno/1991 e A Salvo/1995 são cultuados até hoje) e pouco depois caiu no radar do Oscar. Foi assim que o glam Velvet Goldmine (1998) foi parar no Oscar de melhor figurino, que o nostálgico Longe do Paraíso (2002) concorreu a quatro estatuetas (incluindo melhor atriz para a amiga Julianne Moore), que Cate Blanchett foi parar no páreo de atriz coadjuvante como um clone de Bob Dylan de Não Estou Lá (2007) e Carol (2015) foi indicado a seis estatuetas. Os filmes de Haynes costumam ser bem diferentes entre si, tanto na estética quanto na narrativa, mas quem conhece seus filmes sabe que o cara curte mesmo é cinema, não importante o gênero. Parece que um dia ele acordou e achou que faltava um filme careta no seu currículo - e assim nasceu este O Preço da Verdade. O filme tem o maior estilo de querer figurar nas premiações do ano passado, mas nem mesmo Mark Ruffalo conseguiu ser lembrado por seu trabalho como o obstinado advogado que move uma ação contra a gigante DuPont. Baseado em uma história real, o filme conta a história de Rob Billot (Ruffalo), advogado de grande corporações e procurado por um velho conhecido fazendeiro (Bill Camp) que suspeita que existe algo estranho com a água das redondezas. Ele perdeu mais de cem cabeças de gado por causas desconhecidas (mas evidenciadas em sintomas como tumores, dentes pretos e agressividade) e acredita que tem relação com intoxicação por liberação de algum produto químico na região que a maior empregadora é a fábrica da DuPont. Conforme consegue mais informações, Billot descobre doenças crônicas em moradores da região, deformidades em recém-nascidos e um padrão estranho no manejo de funcionários da indústria. Ele nem imaginava que todos estes problemas está relacionado com um produto utilizado em frigideiras antiaderentes. A partir de determinado ponto, Billot irá se deparar com o que pode haver de mais despudorado em irregularidades e descarte de substâncias químicas. Haynes faz um filme "denúncia" munido de uma grande investigação (registros e documentos são o que não faltam) e os interesses que se cruzam na cruzada de Billot contra um verdadeiro gigante industrial. A narrativa prende atenção e você nem se dá conta de que Anne Hathaway tem pouco a fazer como a esposa de Billot (a não ser aumentar prole masculina da casa) ao longo dos vários anos de disputas judiciais. O Preço da Verdade consegue ser interessante, ainda que esteja mais para A Terra Prometida (2012) de Gus Van Sant do que para Erin Brockovich (2000) de Steve Soderbergh (curiosamente filmes de diretores que compartilham o passado indie ousado com Haynes). Mesmo sem trazer novidades para o gênero (embora Haynes ouse num ângulo aqui, num ruído crescente ali...), o longa deixa mais uma vez aquela sensação de até quando teremos que lidar com tragédias assim?
O Preço da Verdade (Dark Waters/EUA-2019) de Todd Haynes com Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Camp, Victor Garber e Bill Pullman. ☻☻☻☻
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