sábado, 27 de fevereiro de 2021

#FDS Robert Altman: O Jogador

 
Tim Robbins: no olimpo das estrelas. 

A primeira vez que ouvi falar do filme O Jogador foi no início dos anos 1990 no programa Vídeo Show (quando ainda era interessante), era uma notícia rápida falando da legião de atores que estavam se oferecendo para uma participação no então novo filme de Robert Altman que aconteceria nos bastidores dos estúdios de Hollywood. A ideia era de encher os olhos e eles encheram ainda mais quando o Festival de Cannes rendeu ao filme os prêmios de melhor direção e melhor ator (Tim Robbins) pelo olhar ácido sobre a capital do cinema americano. O diretor chegava de uma fase ruim depois que sua versão para o cinema de Popeye (1980) foi um verdadeiro desastre (lembro quando assisti em VHS num fim de semana na casa da minha madrinha e a ideia era meio "quem teve a ideia de fazer um filme do desenho?"). Depois de uma década de filmes que ninguém ligava, foi com O Jogador que o cineasta lembrou o quanto poderia ser empolgante, principalmente por pegar as expectativas geradas por uma ideia e vira-las do avesso. Aqui ele conta a história de Griffin Mill (Robbins, perfeito), um executivo de estúdio que está sempre à procura de um projeto que lhe possa render fama e fortuna, mesmo que para isso precise espinafrar alguns roteiros que chegam até as suas mãos. Cheio de poder e considerando que seus inimigos não podem lhe fazer mal, Mill começa a ficar paranoico quando começa a receber ameaças. Ele sente-se tão acuado que acaba cometendo o assassinato de seu principal suspeito - e como se não bastasse isso, acaba se envolvendo com a namorada do falecido (Greta Scacchi). Logo ele é alvo de uma investigação capitaneada por uma detetive que não está nem aí para aquele mundo de celebridades (Whoppi Goldberg). Assim como em outros filmes do diretor, aqui também o crime e sua investigação não chega a ser o motor da história, mas uma espécie de mosaico para as situações que giram em torno dos envolvidos. O filme estabelece um tom noir no início da narrativa e brinca um com ele, seja com os cartazes de filmes antigos que aparecem nas paredes, os closes e tensões temperadas com comentários ácidos com a indústria do cinema (que o cineasta conhece bem e se virou mais do que podia para lidar como vemos no documentário Altman de 2014). É claro que o roteiro de Michael Tolkin baseado em seu próprio livro tem muito daquele tipo de humor que tanto atrai o cineasta (como a cena do banho de lama, o filme dentro do filme e até a namorada que é mais infantil do que uma femme fatale). Apesar de tantos elementos, talvez o melhor do filme seja mesmo o trabalho de Tim Robbins que compõe uma espécie de anti-herói ambicioso e que se percebe numa espécie de olimpo habitado por uma legião de estrelas (com participações especias de Cher até Andy MacDowell, de Julia Roberts até Bruce Willis), geralmente em cenas que se divertem com a percepção que o público tem de suas personas e uma cidade que transpira cinema (e se tropeça em artistas em cada esquina). Visto hoje, o que pode ser mais interessante na Hollywood de O Jogador é a ideia de fazer dinheiro com ideias originais, quando o que mais vemos atualmente são reboots, remakes e continuações. Será que Mill teria mudado sua ideia sobre um bom projeto cinematográfico em 2021? Ele eu não sei, mas Robert Altman continuaria o mesmo. 

Tim, Sidney e Altman: lições de um sobrevivente de Hollywood. 

O Jogador (The Player / EUA - 1990) de Robert Altman com Tim Robbins, Greta Scacchi, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Sydney Pollack, Lyle Lovett e Richard E. Grant. ☻☻☻

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