Aleksei (ao centro): uma guerra sem enfeites |
Vá e Veja está sempre presente na lista de melhores filmes de guerra da história do cinema e também aparece naquelas dedicadas às produções mais difíceis de se assistir. O motivo de todo o culto em torno dele é a narrativa realista sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial ambientada no território da União Soviética e o motivo para o filme ser tão difícil nasce exatamente daí, já que o diretor Elem Klimov destrói qualquer ideia do filme de guerra como entretenimento para contar uma história sem concessões que coleciona vítimas ao longo de suas duas horas de duração. O filme segue a trajetória do adolescente Florian (Aleksei Kravtchenko), um rapaz comum que vive num vilarejo na Bielorrússia com a mãe e suas irmãs. No início do filme, ele e um amigo cavam o chão em busca de artefatos de guerra e acabam encontrando uma arma. Um avião cruza o céu e é como se um verdadeiro pesadelo começasse. O que antes poderia ser vivenciado como uma brincadeira, mostrará que Guerra é coisa séria e devastadora. Logo ele se alia aos partisans, um movimento clandestino que lutava contra os invasores alemães. Enquanto a mãe se desespera com as possibilidades em vista, Florian mostra-se até entusiasmado com seu recrutamento. No entanto, logo uma série de acontecimentos o farão se perder do grupo e vivenciar o inferno na Terra. São tantas atrocidades que o garoto testemunha que compreendo perfeitamente a desistência de parte do público durante o filme. Embora Vá e Veja condense os acontecimentos em pouco mais de duas horas (o que é mais do que suficiente para cumprir seus objetivos) não existe qualquer exagero no que vemos diante da câmera. Cenas chocantes (e a pior delas é a do celeiro) foram bastante comuns na Bielorrússia. Ao todo foram 628 cidades queimadas junto com seus moradores durante a invasão nazista e o filme não poupa o espectador de vivenciar as angústias presenciadas por seu protagonista (que começa o filme como um rapaz comum e termina magro, envelhecido e à beira da loucura num trabalho impressionante de Aleksei). Outro destaque da produção é a fotografia com uso de luz natural que deixou tudo ainda mais realista diante da câmera, além de um impressionante trabalho de som. Ainda existe toda uma mítica em torno do filme, já que o diretor Elem Klimov vivenciou o período da Segunda Gurra Mundial quando era menino e se inspirou nesta experiência para criar o filme, além disso, seu co-roteirista, Ales Adamovich, era adolescente durante a Guerra e lutou ao lado dos pais entre os partisãos, vivenciando testemunhando histórias muito semelhantes as de Florian. Todas estas experiências trazem uma autenticidade impressionante para o filme que tem seu título retirado do texto bíblico do sexto capítulo do Apocalipse. Com seus diálogos ásperos e suas cenas cruas, trinta e cinco anos após seu lançamento, o retrato da guerra em Vá e Veja continua incômodo e insuperável.
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