Coogan: dentes inconcebíveis... |
O inglês Michael Winterbottom começou sua carreira na televisão dirigindo séries e documentários no final dos anos 1980. Em 1995 teve sua primeira experiência ao fazer cinema e desde então manteve a rotina quase inquebrável de lançar um filme por ano. Pode se dizer que ele já fez todo tipo de filme, do erótico (9 Canções/2004) até o drama mais convencional (O Preço da Coragem/2007), mas sua marca mesmo é quando mistura realidade e ficção em longas que podem ser dramas (Bem-Vindo à Sarajevo/) ou comédias (A Festa Nunca Termina/2002). Fazia tempo que eu não me empolgava com um filme dirigido pelo moço, mas o que ele faz neste Greed está entre os seus melhores trabalhos, não apenas por repetir com maestria sua mistura de ficção com algo documental, mas por misturar risos com temas sérios, além de debochar um tanto de si mesmo com as filmagens de um reality show e um documentário dentro do próprio filme. Parece complicado? Nas mãos de outro diretor a ideia seria uma confusão só, mas com Winterbottom demonstrando toda sua energia, o filme é bastante empolgante. O filme conta a história de Sir Richard McCreadie (Steve Coogan, o ator favorito do cineasta) que desde bem jovem construiu um verdadeiro império da moda. Entre grandes magazines à marcas disputadas por artistas ele fez muito dinheiro ao longo dos anos. Ele está prestes a celebrar sessenta anos de vida e uma grande festa é organizada para servir de uma espécie de fachada para todos os escândalos financeiros envolvendo seu nome. A celebração ainda inclui a presença de um escritor (David Mirchell) que está preparando um livro sobre a vida de McCreadie e passa a ter contato com os bastidores da festa, além de funcionários e familiares do empresário. Cada um deles tem algo a contar sobre Richard, a mãe (Shirley Henderson) que não faz questão de entender como o filho se tornou milionário, a ex-esposa (Isla Fisher) que ainda é bem próxima do ex-marido e mostra-se grande parceira de maracutaias, o filho inconformado (Asa Butterfield), a filha (Sophie Cookson) que tem seu próprio reality show (e que de vez em quando se confunde sobre o que é sua vida e o que é mentira). Misture tudo isso com humor ácido, imigrantes sírios, sósias, mão de obra barata, cenários gregos e um pouco de vingança e o filme se constrói de forma surpreendente. O mais interessante é como Greed (o apelido de Richard que em inglês significa ganância) constrói sua casca engraçadinha e um tanto frívola para escancarar mesmo a miséria que se esconde por trás de toda uma indústria milionária, tendo Coogan em um ótimo trabalho que vai do flerte com o glamour à personalidade mais desagradável. Assim, da comédia passa-se para o drama e depois até para um certo suspense. Greed é Winterbottom em sua melhor forma.
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