Alessandra e Pigossi: nana neném, que a Cuca vem pegar...
A Netflix se tornou uma produtora de séries brasileiras muito interessantes. É verdade que embora Samantha! (2018-2019) e Ninguém Tá Olhando (2019) fossem muito divertidas, ambas já foram canceladas pelo público não ter comparecido na audiência (uma pena, sou órfão das duas). Recentemente o sombrio Bom Dia, Verônica (2020) se tornou um grande sucesso e talvez chegue a ter várias temporadas como o sucesso mundial 3% (que rendeu quatro anos de audiência para a Netflix e terminou no ano passado). Lançada recentemente, Cidade Invisível chamou atenção do público e da mídia com seu potencial ao misturar trama policial com figuras do folclore brasileiro. Sei que dito assim a mistura pode até parecer um tanto estranha, mas funciona bem dentro da proposta de seu criador, o cineasta brasileiro Carlos Saldanha (famoso pelos seus trabalhos em A Era do Gelo/2002 e Rio/2011 e indicado duas vezes ao Oscar). O programa começa com a morte de Gabriela (Julia Konrad), que estava em uma festa numa vila de pescadores na noite em que um misterioso incêndio acontece nas redondezas. Para o desespero de seu esposo, o policial Eric (Marcos Pigossi), não existem maiores investigações sobre o caso. A situação só piora quando os peixes daquela região da cidade do Rio de Janeiro aparecem mortos e uma construtora está de olho naquela área em nome de um grande empreendimento imobiliário. Não bastasse os próprios moradores se dividirem entre os que estão dispostos a se desfazer de suas casas e aqueles que preferem continuar onde estão, acontecimentos estranhos continuam ocorrendo - com direito até a um boto-rosa aparece morto nas areias da praia. Intrigado, Eric começa a desenvolver uma investigação que brinca com seu imaginário e, também com sua própria identidade. Embora a trama policial não tenha nada de original à primeira vista, o mais legal é ver como ela se mistura com sereia, curupira (numa criação visual interessantíssima), um primo do bicho papão, o saci, a cuca em pessoa e outros personagens que remetem diretamente ao nosso folclore. Confesso que fiquei muito satisfeito com a forma que estes personagens são inseridos na história e a tornam cada vez mais interessante, sobretudo pelo bom trabalho do elenco (e não vou escrever quem interpreta o que para não estragar a surpresa que senti ao assistir) e efeitos especiais. O grande desafio do roteiro era atualizar estes personagens para o século XXI, trazendo-os para um centro urbano sem perder as características principais destas entidades que andam esquecidas em nossas produções audiovisuais. Se existe uma reclamação a se fazer sobre a série são os poucos episódios (apenas sete) com duração de pouco mais de meia-hora, mas pelo menos termina com aquele gancho para uma segunda temporada capaz de reconfigurar alguns pontos importantes da trama (só espero que haja compensações por conta das baixas da primeira temporada, adoraria ver algumas ressuscitarem). Cidade Invisível é puro entretenimento e, de quebra, ainda faz as nossas pazes com parte de nossa cultura nacional que anda pouco celebrada ultimamente.
Cidade Invisível (Brasil/2021) de Carlos Saldanha com Marcos Pigossi, Alessandra Negrini, Jimmy London, Jéssica Córes, Fábio Lago e Wesley Guimarães. ☻☻☻☻
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