sábado, 27 de novembro de 2021

#FDS Made in Japan: Creepy

 
Hidetoshi e Kagawa: estranhos vizinhos. 

Depois de uma investigação que obteve um desfecho sangrento na delegacia, o policial Koichi (Hidetoshi Nishijima) se aposentou. Em busca de uma vida sossegada, ele agora se dedica ao magistério em uma faculdade local e se mudou para a tranquilidade do subúrbio com a esposa Yasuko (Yūko Takeuchi). Embora os vizinhos sejam bastante reservados e pouquíssimo simpáticos, o casal considera que fizeram uma ótima escolha em mudarem o estilo de vida para a calmaria. No entanto, Koichi encontra muita dificuldade para deixar de se interessar pelas investigações de um amigo policial e... isso basta para que os dois mundos do ex-policial comecem a se misturar. Se no início começam a suspeitar que existe algo de errado com o estranho vizinho, Nisihino (Teruyuki Kagawa), a situação só piora quando começam a desconfiar de que ele é um assassino procurado pela polícia há tempos. Pode se dizer que Creepy é composto por quatro atos bastante distintos em sua eficiência. O primeiro apresenta um mundo estranho em que o crime e a crueldade humana parece além da compreensão. No segundo, a busca pela tranquilidade se choca com a hostilidade da vizinhança e a sensação de que ninguém está muito disposto a fazer amigos, mas logo depois o filme começa a compor uma atmosfera investigativa com elementos aparentemente triviais do cotidiano. Assim, a nossa mente remete logo ao primeiro ato e suspeita que algo de ruim irá acontecer. Esta atmosfera é tão bem construída que me lembrou a série Mindhunter (quando sairá a terceira temporada, hein Netflix?) e sua tentativa de estudar os serial killers em sua habilidade de se camuflarem enquanto pessoas comuns antes do surto. Roteiro, direção e elenco fazem tudo direitinho para nos deixar instigados rumo ao que está prestes a ser revelado - e parece ter relação com as estranhas relações de Nisihino com sua família - afinal a esposa nunca é mostrada e a filha parece sempre estar escondendo algo. Eis que o terceiro ato surge e provoca os arrepios prometidos pelo título em inglês. Um jogo de manipulação e chantagens se instaura (ainda que tenha um elo fraco com a trajetória de Yasuko) . Quando o submundo da casa do estranho vizinho é revelado o filme custa a ficar de pé e tudo parece um tanto forçado e sem muita coerência. Parece o mergulho em um pesadelo urbano surreal que deixa toda a elegância do ato anterior para trás até que surge o desfecho. O curioso é que enquanto o filme se leva a sério, ele se garante numa boa em suas doses cavales de suspense, mas na segunda metade a busca por reviravoltas depende muito da boa vontade do espectador para continuar comprando a ideia. O problema é que na primeira parte a narrativa é tão boa que fica difícil manter o nível até o final, pelo menos  o rumo dos fatos é tão imprevisível que é impossível ficar indiferente ao que se vê no decorrer da história. Tivesse um roteiro mais lapidado em sua segunda parte, Creepy poderia ser um verdadeiro clássico da paranoia urbana. 

Creepy (Japão - 2018) de Kiyoshi Kurosawa com Hidetoshi Nishijima, Yūko Takeuchi, Teruyuki Kagawa e Masahiro Higashide. ☻☻

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