Clint, Macho e Eduardo: desventuras no México.
Depois de A Mula (2018), Clint Eastwood prometeu que não trabalharia mais como ator. No entanto, quando ele anunciou que voltaria a acumular as funções de ator e diretor em Cry Macho seus fãs agradeceram. O filme é baseado no livro de Richard Nash que, lançado nos anos 1970, sempre teve a intenção de ser um filme. A ideia do próprio autor era usar a trama em um roteiro, mas demorou bastante para que este desejo se tornasse realidade. Como não li o livro, não posso comparar esta transição para a telona, mas fica fácil identificar o interesse de Clint pela trama, sobretudo se observarmos que seus últimos trabalhos como ator levam em conta o peso do envelhecimento. Cry Macho tem uma história simples, sobre um cowboy solitário chamado Mike Milo (Clint) que depois de um acidente adquiriu uma espécie de dívida de gratidão com Howard (Dwight Yoakam), que permitiu que ele levasse os anos seguintes criando cavalos em sua fazendoa. Eis que um ano depois de demiti-lo, Howard lhe pede o favor de ir até o México e buscar seu filho adolescente, Rafa (Eduardo Minett), que foi deixado em outro país tempo. A vida do rapazinho não foi fácil, vivendo com uma mãe que sempre trocou de parceiros com frequência, o menino tem um histórico de problemas de relacionamento em casa e nas ruas, especialmente por conta de seu envolvimento com rinhas de galo. Falando nisso, o título pode até fazer a alusão ao tipo durão imortalizado por Clint demonstrando seu lado mais emocional, mas Macho, na história é o nome do galo do garoto. Se a missão parece simples, a mãe de Rafa está disposta a colocar seus capangas no rastro dos dois e evitar que o menino saia do país. Lógico que Mike e Rafa irão se estranhar e aos poucos se entrosar nas desventuras que enfrentam pelo caminho. Não existe nenhuma grande novidade no decorrer da história, mas quem conhece a carreira de Clint irá identificar vários elementos que estiveram presentes em seus filmes e que aqui aparecem numa espécie de releitura - obviamente que a ideia do ator estar no México soa como uma inversão do que vimos no elogiado Gran Torino (2008) - mas que funciona mais para os fãs do que para os demais. Sua narrativa lenta tem algumas cenas de ação, doses corretas de humor (o estilo de humor amargo de Mike é o que Clint faz de melhor e o galo bom de briga também ajuda muito a dar alguma graça à história) além de um toque de romance (cortesia da bela presença de Natalia Traven que merecia mais destaque na história), o filme tem lá suas falahas - nenhum personagem secundário recebe muita profundidade e até o desfecho dos personagens pode soar meio frustrante. No entanto, Cry Macho parece funcionar pelo que é: uma homenagem de Clint ao legado dele mesmo. Vale destacar que aos 91 anos, Clint ainda filma com uma energia e eficiência impressionantes. Espero que este não seja seu filme de despedida como ator, mas, se for, torna-se um belo registro.
Cry Macho (EUA/2021) de Clint Eastwood com Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven, Fernanda Urrejola e Dwight Yoakam. ☻☻☻
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