Na seleção do representante brasileiro para categoria de filme estrangeiro do Oscar de 2022, muita gente apostava que Sete Prisioneiros seria o escolhido, a seu favor tinha uma distribuidora do porte da Netflix e o sucesso de crítica ao abordar uma história tão incômoda quanto atual. Se o posto de indicado para a academia ficou com Deserto Particular de Ary Muritiba (que estreia neste fim de semana em circuito nacional em tempos ainda pandêmicos), Sete Prisioneiros de Alexandre Moratto se destaca entre os filmes mais assistidos da Netflix desde que foi lançado no dia cinco de novembro. Em comum, Muritiba e Moratto possuem o mérito de serem dois realizadores jovens e aclamados por suas obras anteriores. Moratto, por exemplo, viu Sócrates (2018), seu longa de estreia, ganhar prêmios e fama mundial - o que lhe rendeu três indicações no prestigiado Film Independent Awards nos Estados Unidos (concorrendo na categoria John Cassavetes Awards, Ator com Christian Malheiros e ganhou o prêmio de Diretor Revelação). Por conta disso, seu novo filme era mais do que aguardado e Moratto não decepciona. Sete Prisioneiros conta a história de quatro rapazes de origem humilde que saem do interior de São Paulo para a cidade grande sob a promessa de ganharem muito dinheiro e ajudarem suas famílias a superarem a pobreza. Assim, Rodiney (Josias Duarte), Mateus (Christian Malheiros), Bianchi (Clayton Mariano) e o tímido Ezequiel (Vitor Julian) vão parar na grande metrópole para trabalhar num ferro velho administrado por Luca (Rodrigo Santoro). Se o dormitório em que se alojam já parece um mal sinal, as coisas só pioram quando ao longo dos dias são privados de tomar banho, de se comunicarem com os familiares e se tornam proibidos de voltarem para seus lares por conta da dívida contraída com Luca (que a cada dia torna-se maior). Os rapazes de percebem presos a um trabalho escravo e uma rede de corrupção que torna a saída daquele lugar cada vez mais difícil. Sofrendo em uma relação repleta de violências (físicas e psicológicas), Mateus tenta se aproximar de Luca e ganhar a confiança dele em troca de um acordo pela liberdade de todos e a partir daqui é melhor não comentar muito o que acontece. O texto de Moratto e Thayná Mantesso capricha nas relações banhadas em uma realidade social desigual, em que os personagens marcados pela pobreza são seduzidos pela promessa de um futuro melhor e caem numa verdadeira armadilha - mas esta é apenas uma, já que aos poucos Mateus também começa a pensar diferente sobre toda aquela situação e vivencia um dilema moral que torna o filme ainda mais interessante. Com narrativa crua e pesada, o filme funciona como um pesadelo urbano em pleno Brasil do século XXI. Christian Malheiros já provou ser um ótimo ator e aqui está excelente nas ambiguidades de seu personagem, chegando a ofuscar até o celebrado Rodrigo Santoro que está convincente, embora um tanto caricato. O mais interessante contudo é a forma como o filme apresenta aquela situação toda em uma grande cidade, cercada de prédios e pessoas que não enxergam o que acontece aos rapazes. Os quatro que chegam ao ferro velho é apenas um pedaço de uma realidade cruel sobre tráfico humano nas grandes cidades neste filme que assusta e, por isso mesmo, deve ter perdido o posto de representante nacional numa possível indicação ao Oscar.
Sete Prisioneiros (Brasil/2021) de Alexandre Moratto com Christian Malheiros, Rodrigo Santoro, Josias Duarte, Vitor Julian, Clayton Mariano, Cecília Homem de Mello e André Abujamra. ☻☻☻☻
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