Depois da biopic de Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2018) e de Elton John em RocketMan (2019), uma versão para o cinema da vida de David Bowie ganhou as manchetes. Com o nome de peso de Stardust (sobrenome do alter-ego alienígena Ziddy, vocalista da Spiders from Mars) o filme carrega a intenção de contar a história do camaleão do rock antes que se tornasse um verdadeiro ícone da música. O protagonista do filme é o artista após o seu grande sucesso com Space Oddity em 1969 e a temporada em que tentou ganhar fama nos Estados Unidos em 1971 quando seu álbum The Man Who Sold the World era considerado sombrio demais para emplacar. Neste período a gravadora Mercury resolveu mandar o cantor para promover o disco do outro lado do Oceano Atlântico, mas as coisas não saíram muito bem como o esperado. Impossibilitado de fazer shows, por problemas com o visto, o astro teve que se contentar com pequenos shows em ambientes privados e entrevistas para revistas e rádios locais. Apesar de toda a decepção que a aquela visita se tornou, o diretor Gabriel Range (que escreve o roteiro ao lado de Christopher Bell) compram a ideia de que a aquele visita à um outro país, bem mais conservador do que a Inglaterra do início dos anos 1970, foi fundamental para que Bowie criasse sua icônica obra seguinte: The Rise and Fall of Ziggy Stardust. Desbravar os elementos que atravessaram a mente de Bowie na construção do que muitos consideram sua obra-prima, já é em si uma ideia mais do que interessante, mas o filme enfrenta apresenta alguns problemas. A começar pela escolha de Johhny Flynn que tem semelhança zero com o Bowie da vida real. O rapaz pode até ser talentoso, mas aqui revela-se um grande equívoco, não bastou colocar uma peruca, dentadura (quem não curtiu a de Rami Malek na pele de Mercury vai reclamar com razão novamente....), usar um vestido e fazer gestos delicados para ser um protagonista deste porte. Faltou a alma. Eu até dei um desconto para acreditar que aquele era o cantor no início de carreira, inseguro e um tanto neurótico com os rumos que sua carreira tomaria. Diante dos olhares estranhos direcionados à sua figura andrógina, eu realmente relevei o desconforto que o ator imprime ao personagem. Sorte que ao menos a Jena Malone (convincente como Angela Bowie) e Marc Maron (sem bigode na pele do agente Ron Oberman) ajudam a colocar molho na morna visita aos Estados Unidos. Os conflitos de David com estes dois personagens geram os melhores momentos do filme, mas ainda existe um terceiro personagem importante na história: o irmão de Bowie, Terry (Derek Moran) que assombra o irmão com o quadro de esquizofrenia apresentado na idade adulta. O Bowie do filme está bastante preocupado de ser o próximo a enlouquecer - e o filme até sugere que encarnar outras personas ajudaram a driblar este fantasma de sua vida. No fim das contas, a ideia de Bowie ter se sentido um verdadeiro alienígena nos EUA e ter retratado isso na voz de Ziggy soa convincente, mas aquele ato final só demonstra que Johnny Flynn estava mais confortável mostrando o traseiro na versão mais recente de Emma (2020) do que evocando um rockstar. Sem o sex appeal do retratado (basta ver o documentário Ziggy Stardust and The Spiders From Mars/1973) para ver a diferença de energia entre os dois). O final poderia ter feito filme ganhar mais pontos, mas termina deixando a certeza de que um ator mal escolhido pode custar caro à uma produção. No fim das contas, o filme serve pela curiosidade dos aspectos da vida pessoal de Bowie e da ambientação favorecida pela fotografia (que parece saída de um filme dos anos 1970). Vale lembrar que o filme não teve permissão para usar as músicas de Bowie - o mesmo aconteceu com Velvet Goldmine/1998 e não foi propriamente um grande problema, falando nisso, fica a dica para ver Jonathan Rhys-Meyers vivendo uma variável de Bowie bem mais interessante.
Stardust (Reino Unido/2020) de Gabriel Range com Johnny Flynn, Marc Maron, Jena Malone, Derek Moran, Anthony Flanagan e Julian Richings. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário