Yamasaki e Motoki: preparando a despedida.
Para fechar o nosso #FimDeSemana dedicado ao cinema japonês, escolhi uma obra premiada com o Oscar. Em 2009 dois filmes dividiam o favoritismo entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O primeiro era Entre os Muros da Escola de Laurent Cantet, que depois da Palma de Ouro no Festival de Cannes colecionou prêmios e sucesso ao redor do mundo, o outro era o israelense Valsa com Bashir de Ari Folman, um documentário em formato de animação sobre as memórias de um veterano da Guerra do Líbano - produção que também foi indicada ao prêmio máximo do Festival de Cannes e levou para casa o Globo de Ouro de filmes estrangeiro (derrotando o concorrente francês). Eis que a disputa chegou fermentada no Oscar e quando o ganhador foi anunciado, ninguém imaginava que o japonês A Partida seria o premiado da noite. Embora o filme tenha feito sucesso em pequenos festivais e premiações orientais, sua vitória despertou mais raiva do que celebração ao longo do tempo, o que é um bocado injusto. Embora seus concorrentes citados ainda figurem entre as obras mais relevantes da década passada, o japonês também tem seus méritos. A começar pelo fator que fez com que obtivesse mais votos naquele noite: a universalização do seu tema. Embora sejam obras memoráveis, seus concorrentes abordavam temáticas que carregavam em si muito dos conflitos de seus países de origem, o que não costuma cair muito na graça da Academia. Assim, no fim das contas, a maioria dos votantes se comoveu mais com uma trama em torno da morte e seus rituais de despedida. Sim, A Partida é um filme sobre a morte, mas também sobre os tabus que gravitam em torno da temática, também ajuda o fato do protagonista ser um personagem sem rumo na vida. Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki) acaba de perder o emprego com a destituição da orquestra em que fazia parte tocando violoncelo - instrumento que o fez contrair uma enorme dívida. Vivendo na cidade ao lado da esposa Mika (Ryôko Hirosue) sem maiores perspectivas, ele resolve voltar para o interior e morar na casa deixada pela sua mãe falecida. Na cidadezinha, ele se candidata a um emprego sem saber muito bem do que se trata. Surpreso com salário que receberá, ele até se acostuma com a ideia de que será responsável por preparar os mortos para seus funerais. Ciente do estranhamento que sua nova profissão provoca, ele prefere guardar segredo e até mentir para a esposa sobre seu novo ofício. Aos poucos, Daigo começa a se acostumar com o trabalho e muito se deve às instruções do patrão, Sr. Sasaki (Tsutomo Yamasaki), que o faz notar a importância daquele trabalho em respeito aos mortos e seus familiares em um momento tão doloroso. O cineasta Yôjirô Takita surpreendeu muita gente em sua terra natal com este filme, uma vez que sua carreira era marcada por filmes de muito erotismo e aqui ele capricha na sensibilidade e na plasticidade na composição das cenas, tornando A Partida mais um exemplo de como o cinema japonês é capaz de abordar a morte misturando leveza, drama e até humor. Embora todo o elenco esteja bastante correto, o simpático Masahiro Motoki é o grande destaque, compondo um homem comum de forma irresistível. O histórico do cinema japonês no Oscar de filmes estrangeiro é curioso, ao todo o país concorreu 19 vezes ao prêmio, o levando quatro vezes para casa. No entanto, três destes premiados foram lançados nos anos 1950, sendo A Partida o único prestigiado posteriormente na categoria, quebrando um jejum de 52 anos.
A Partida (Okuribito/ Japão - 2008) de Yôjirô Takita com Masahiro Motoki, Tsutomo Yamasaki, Ryôko Hirosue e Kimiko Yo. ☻☻☻☻
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